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Durante uma hora e meia, a promotora Daniela Hashimoto, responsável pela acusação contra Lindemberg Alves, tentou convencer os jurados que o réu mentiu em seu depoimento e que toda a ação que terminou com a morte de Eloá Pimentel foi premeditada.
Hoje começou o quarto e, espera-se, último dia de julgamento de Lindemberg, acusado de matar Eloá após mantê-la como refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em Santo André (ABC paulista).
Ao expor a tese da acusação, a promotora Daniela Hashimoto disse que Lindemberg já sabia o que iria fazer quando foi à casa de Eloá. ´Não se baseiem em performances, mas nas provas´, afirmou olhando para aos jurados. ´Coloquem-se no papel das vítimas.´
Hashimoto afirmou que Lindemberg mentiu ao falar que os demais reféns --amigos de Eloá-- poderiam deixar a casa quando quisessem. A promotora chegou a comparar a situação com a vivida pelo apresentador Silvio Santos em 2001, quando foi feito refém dentro de sua casa.
´Será que o Silvio Santos é retardado, um idiota mental [por não sair da casa]? Será que ele não foi submetido ao cárcere?´, perguntou.
Hashimoto também disse que não há dúvidas sobre quem atirou e matou a jovem. ´A perícia comprovou que a Nayara foi atingida por um projétil de calibre 32. Só o Lindemberg tinha essa arma no dia dos fatos´, declarou.
Segundo a promotora, ´Eloá era apenas um objeto nas mãos de Lindemberg. Ele tinha ódio dela´.
O julgamento começou com o debate entre as partes: uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa, além da réplica e da tréplica (sendo uma hora cada uma).
Somente depois disso, os jurados vão dar seu parecer e, na sequência, a juíza lerá o veredicto. A expectativa é que a decisão do destino do réu seja conhecida hoje.
Ele não se arrependeu, diz advogado
Ao chegar ao fórum hoje, o advogado José Beraldo, assistente de acusação, afirmou que Lindemberg premeditou o crime. ´Vamos mostrar que o passado dele não é bom e que ele sequer teve um momento de arrependimento.´
O advogado afirmou que a perícia mostrou que o tiro que matou a jovem foi de execução, de cima para baixo e a poucos centímetros de distância. ´Foi um tiro na cabeça de Eloá e um na parte íntima [virilha] dela. Típico de um animal´, afirmou.
Segundo Beraldo, o réu foi ao apartamento de Eloá, que estava com amigos, por ciúmes, porque achava que eles estavam ´namorando´. Mas, que ao chegar lá, percebu que estavam fazendo um trabalho da escola.
Beraldo também disse não acreditar no pedido de desculpas feito por Lindemberg ontem à mãe da vítima. ´Aquele pedido de perdão foi uma ameaça, foi um recado [à família de Eloá]. Uma ameaça que fala: ´Perdeu? Pode perder mais´, declarou.
Depoimento do réu no terceiro dia
O terceiro dia do julgamento de Lindemberg foi quase totalmente dedicado ao depoimento do réu, que falou pela primeira vez sobre o caso. Ele ficou mais de cinco horas respondendo a perguntas da juíza e da acusação. Já os questionamentos da defesa duraram cerca de dez minutos.
Lindemberg confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima. ´Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei [contra ela].
Foi tudo muito rápido. Pensei que ela fosse pegar minha arma´, afirmou. A fala contraria a versão dos policiais, que alegam ter invadido o local apenas quando ouviram um disparo.
O réu também negou que tenha disparado contra um policial que participava das negociações e que tenha feito os amigos de Eloá reféns --eles teriam ficado por opção, segundo Lindemberg. No começou de seu depoimento, o réu pediu perdão à mãe de Eloá.
O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe (contra Eloá), tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues, amiga de Eloá, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cárcere privado e disparos de arma de fogo.
Sobre o tiro que acertou Nayara, Lindemberg disse não se lembrar. ´Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro.´
Lindemberg também negou que estivesse ameçando matar Eloá, como relataram diversas testemunhas nos primeiros dias do julgamento. ´Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia longe do local´, disse. ´Eu estava muito nervoso e tomei atitudes impensadas. Atirei para o chão para manter a polícia longe do apartamento.´
O réu disse ainda que chegou a encarar o cárcere como
uma ´brincadeira´. ´Infelizmente foi uma vida que se foi, mas em alguns momentos levamos aquela situação como se fosse uma brincadeira´, disse. Após o depoimento, a sessão foi suspensa.
Segundo dia
O segundo dia de julgamento teve como destaque a versão dos familiares da vítima sobre o caso. Os dois irmãos de Eloá prestaram depoimento na terça-feira (14).
O primeiro foi Ronickson Pimentel, 24, o irmão mais velho. Ele afirmou que Lindemberg é ´um monstro´, embora sua família o tratasse como ´um filho´. ´Ele é um monstro, é capaz de tudo´, afirmou Ronickson.
A testemunha disse que o comportamento de Lindemberg na frente da família de Eloá era completamente diferente da sua postura na rua –geralmente uma pessoa briguenta, especialmente quando jogava futebol.
Ronickson se emocionou ao citar o impacto da morte de Eloá para o irmão mais novo, Everton Douglas, 17. ´Meu irmão se fechou bastante. Acho que ele se sente um pouco culpado porque foi ele que apresentou Lindemberg para minha irmã. Eles eram amigos.´
Ao dar seu depoimento mais tarde, Everton confirmou que ´infelizmente´ era muito amigo de Lindemberg.
A mãe de Eloá, que foi arrolada como testemunha da defesa, chegou a entrar no plenário para depor, mas foi impedida pela advogada Ana Lúcia Assad, que voltou atrás e dispensou o depoimento.
No período em que esteve no plenário, Ana Cristina Pimentel encarou o réu. ´Não vi arrependimento nele, ele não pediu perdão´, afirmou depois aos jornalistas.
Também prestaram depoimento nesta terça outras testemunhas de defesa, entre elas dois jornalistas que fizeram a cobertura do caso.
Dois policiais que participaram das negociações para libertar Eloá também foram arrolados como testemunhas. O delegado Sérgio Luditza disse que os planos de resgate mudaram quando o réu disse a seguinte frase: ´eu estou ouvindo um anjinho e um capetinha e o capetinha está vencendo´.
Também prestou depoimento por cerca de 4 horas o agente do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) Adriano Giovanini. Ele disse que Lindemberg ´espancava muito Eloá durante o cárcere´.
De acordo com o agente, o réu anunciava constantemente que ia matar a jovem e cometer suicídio. Segundo Giovanini, um tiro disparado dentro do apartamento motivou a invasão do local.
O agente também foi questionado sobre a volta da outra refém, Nayara Rodrigues, ao cativeiro. ´A volta da Nayara não foi planejada, foi um excesso de confiança na Nayara porque o Lindemberg tinha dito que se entregaria na presença dela e do irmão mais novo de Eloá´, alegou.
Primeiro dia
O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado.
O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.
Outros dois amigos de Eloá, que também foram mantidos reféns, afirmaram que Lindemberg os ameaçava de morte. ´Ele dizia que ia fazer uma besteira´, disse Victor Lopes de Campos respondendo às perguntas da promotora Daniela Hashimoto.
Já Iago Oliveira afirmou que ´ele ameaçava a Eloá a toda hora, e dizia que ela não ia sair viva de lá: ou ele ia matar todo mundo e se matar, ou matar a Eloá e se matar´.
O sargento Atos Antonio Valeriano, policial militar que iniciou o trabalho de negociação com Lindemberg, disse que o jovem estava nervoso e dizia que “ia matar os quatro” e depois ameaçava também se matar.
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