sábado, 27 de abril de 2013

Laudo da exumação de Matsunaga diz que tiro foi a mais de 40 cm


  Atualizado em 27/04/2013 08h54

Peritos ressaltam que 'adiantado estado de decomposição' afetou análises.
Executivo da Yoki foi morto em maio de 2012 por Elize Matsunaga.

Kleber Tomaz e Paulo Toledo Piza Do G1 São Paulo
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A Polícia Técnico-Científica de São Paulo concluiu o laudo da exumação do corpo do executivo da Yoki, Marcos Matsunaga. Os peritos responderam 11 perguntas do juiz, 54 da defesa da ré e três da promotoria sobre as causas e circunstâncias da morte, conforme documento obtido com exclusividade pelo G1.
O G1 teve acesso aos resultados. De acordo com a perícia do Instituto Médico-Legal (IML), o tiro que matou Matsunaga foi dado em distância "maior que 40 centímetros", conforme o laudo número 0851/2013, assinado pelo médico-legista Ruggero Bernardo Felice.

O documento ainda informa que o avançado estado de putrefação do corpo comprometeu avaliação de quesitos que apontariam se ele apresentava reações vitais ao ser esquartejado. "Sugerimos correlação com dados de histórico, necroscópicos, de local e balística (...) antes de qualquer conclusão diagnóstica", alerta nota de exame que integra o laudo.
Cronologia do Caso Yoki - 27 agosto 1v (Foto: Arte/G1)
Matsunaga foi morto por sua mulher, a bacharel em direito Elize Matsunaga. Ela confessou ter dado o disparo e está presa. Após balear o marido no apartamento onde o casal morava com a filha, em 19 de maio de 2012, na Zona Oeste da capital paulista, ela esquartejou o corpo dele.
O corpo de Marcos foi exumado em 12 de março e deverá ser enterrado novamente em  15 de maio, no Cemitério São Paulo. A exumação tinha sido autorizada pelo juiz Adilson Paukoski Simoni após solicitação dos advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio, que defendem Elize. Eles contestaram o resultado do laudo necroscópico feito no ano passado que indicava que Matsunaga havia sido esquartejado ainda vivo. Para os defensores, a vítima havia morrido logo após o disparo.
A defesa considera que o novo laudo é favorável à ré. “O Marcos morreu do disparo da arma, segundo laudo. Só não pode se precisar o tempo porque o médico-legista que fez o laudo necroscópico deixou de realizar os exames necessários”, disse a advogada Roselle Soglio, defensora de Elize e que também é especialista em perícias criminais.
Para o defensor da família de Marcos, o primeiro documento é o mais confiável. “Qualquer laudo complementar e nova perícia seria inconclusiva à mercê dessa situação [do estado de putrefação do corpo], que prejudica o resultado”, disse Luiz Flávio Borges D'Urso.
As perguntas e respostas
No documento, os peritos respondem 11 perguntas feitas pelo juiz. Entre os pontos, ele questiona quanto tempo Matsunaga permaneceu vivo após ser atingido na cabeça. "Pela exumação, é impossível precisar este tempo demorado", informa o laudo. Na sequência, o magistrado obtém a resposta de que Matsunaga foi atingido a distância superior a 40 centímetros.
O magistrado questiona ainda se o sangue encontrado nos cortes indica que a vítima estava viva quando foi desmembrada. Os peritos respondem que a presença de sangue verificada pode ter "ocorrido após a secção de vasos calibrosos mesmo depois da morte".

Entretanto, o laudo ressalta que o importante não é esse sangue, mas aquele que ficou infiltrado nos "tecidos da borda lesada que delineia a reação vital", segundo o texto. O documento informa, na sequência, que não é possível determinar por qual parte do corpo começaram os cortes.

O magistrado perguntou ainda: "há outros sinais vitais, ou seja, de que a vítima ainda estava viva quando dos cortes efetuados no corpo?". Os peritos citam o estado do cadáver como um dos complicadores para análise. “A avançada putrefação impediu a identificar qualquer tipo de reação vital”, respondem os legistas no documento.

Por fim, o juiz indaga: "A eventual existência de sangue nos pulmões deveu-se exclusivamente ao movimento do diafragma da vítima, ou pode, em casos que tais (inclusive com degola) ser proveniente de outra  causa?".

Os peritos apontam que o tiro pode ter causado a presença de sangue nos pulmões. "O sangue encontrado nos brônquios provavelmente resultou em aspiração enquanto a vítima permanecia inconsciente. O sangue pode ter sido originado do trauma da fossa anterior do crânio lesado pelo projétil, que tem comunicação com as vias aéreas", escreve a perícia.
No ano passado, o legista Jorge Pereira de Oliveira, do IML em Cotia, escreveu no laudo necroscópico que Marcos morreu por asfixia porque aspirou o próprio sangue quando teve o pescoço cortado.

Quando o primeiro exame foi feito, a cabeça de Marcos ainda não tinha sido encontrada. Por isso, não era possível descobrir que a vítima tinha sido baleada. Além disso, o perito acreditava que a vítima era branca.
Exame que serviu de base para o laudo faz ressalva sobre estado de decomposição (Foto: Reprodução)Exame que serviu de base para o laudo faz
ressalva sobre estado de decomposição
(Foto: Reprodução)
Inconsciência
Ainda no laudo da exumação, a maneira como o disparo foi desferido, e o que ele causou, foram temas recorrentes nos questionamentos do juiz, dos advogados e da promotoria. O documento conclui que o tiro foi dado de cima para baixo, a uma distância de, no mínimo, 40 centímetros. “Não havia elemento de pólvora no segmento craniano (confirmado até pela microscopia), portanto o disparo foi de média a longa distância”, disse o perito.
No primeiro laudo, o necroscópico, a informação era de que o disparo tinha “características de tipo encostado”. “Esse laudo mostra que o tiro foi acima de 40 centímetros. Mostra que Marcos perdeu a consciência após o tiro. Marcos morreu após o tiro”, disse Luciano Santoro, também advogado de Elize.

“A qualificadora da crueldade não mais se sustenta. Laudo prova que Elize falou a verdade e não cortou Marcos em vida. Ela disse que atirou a média e longa distância e isso se confirmou. Esse laudo tirou o fato de que o crime teria sido premeditado porque o tiro teria sido encostado. Marcos não foi esquartejado vivo, mas morto. Mostra que o trabalho anterior foi mal feito e que Elize sempre falou a verdade”, avalia Santoro.
Para o defensor da família Matsunaga, a distância pesa menos do que as outras provas. “Se foi a 10, 20 ou 40 cm não muda a versão real que o laudo trouxe. No sentido que ela deu um tiro de cima para baixo, que caracteriza surpresa”, afirma D'Urso.

Exame complementar
O laudo da exumação é baseado no "exame complementar anamatomopatológico" número 0474/13, que avaliou tecidos de cinco partes do corpo. O exame microscópico apontou ausência de sinais vitais em todos os cinco.

No exame, os peritos ressaltam que as conclusões do exame devem ser consideradas a partir da condição das amostras do cadáver.  "A contaminação pós-mortal é significativa, o que dificulta a nálise de métodos colorimétricos", aponta trecho do exame.
Sugerimos correlação com dados de histórico, necroscópicos, de local e balística haja vista o aspecto extremamente focal deste achado e a grande contaminação pós-mortal do material, antes de qualquer conclusão diagnóstica"
Maria Teresa de Seixas Alves,
médica-legista
"Sugerimos correlação com dados de histórico, necroscópicos, de local e balística haja vista o aspecto extremamente focal deste achado e a grande contaminação pós-mortal do material, antes de qualquer conclusão diagnóstica", afirma a médica-legista Maria Teresa de Seixas Alves.
Prazo para análise e definição de júri
O laudo da exumação será entregue agora para a Justiça, que abrirá prazo para o promotor José Carlos Cosenzo e os advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio se manifestarem. Como o juiz Adilson Simoni está em férias, esse documento deverá ser analisado pela juíza Lizandra Maria Lapenna.
Após essa etapa, um dos magistrados terá de decidir se irá submeter Elize a júri popular pelo assassinato e marcar uma data para o julgamento. Funcionários do Fórum da Barra Funda informaram que o resultado do exame teria chegado na quarta-feira (24).

Pena
O Ministério Público quer que Elize cumpra 30 anos de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe -vingança movida por dinheiro-, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel). Para a Promotoria, Elize premeditou o crime e matou o marido para ficar com o dinheiro do seguro e da herança.

Os defensores de Elize contestam o meio cruel. Alegam que sua cliente só esquartejou Marcos após matá-lo com um disparo. Eles defendem que esse tiro foi dado a esmo, depois de uma discussão em que a acusada teria sido agredida. Elize tinha descoberto fazia pouco tempo que Marcos a traia com uma garota de programa.

Ela também é acusada de ocultação de cadáver, por ter abandonado os membros, o tronco e a cabeça do marido em pontos diferentes da Estrada dos Pires, na Grande São Paulo. A Polícia Civil ainda investiga se Elize teve a ajuda de outra pessoa para cometer o crime. Exame de DNA mostrou sangue de outro homem no quarto de Marcos.

A viúva de Marcos está presa preventivamente em Tremembé, no interior de São Paulo, a espera dessa decisão. Atualmente com 31 anos, ela ainda não viu a filha, que está com mais de 1 ano. A guarda da criança está provisoriamente com os avós paternos.

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