segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Não, Carlos Nascimento, não estamos mais burros



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"Ou os problemas brasileiros já estão todos resolvidos ou nós já nos tornamos perfeitos idiotas. Porque não é possível que dois assuntos tão fúteis possam chamar a atenção de um país inteiro."
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Foi assim que Carlos Nascimento abriu o "Jornal do SBT" na quinta-feira passada. Conheço muita gente que concorda com ele: de acordo com essa turma, deveríamos estar debatendo soluções para a cracolândia ou para os imigrantes haitianos, ao invés de perder tempo com o "BBB" ou com Luiza, que estava no Canadá.
Já eu discordo plenamente. O primeiro assunto não tem nada de fútil, muito pelo contrário: o que se discute ali não é exatamente um programa de TV, mas se houve ou não um crime sexual em frente às câmeras. É a própria definição de estupro que está em jogo.

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Carlos Nascimento criticou obsessão pelo "BBB" e Luiza no Canadá
Carlos Nascimento criticou obsessão pelo "BBB" e Luiza no Canadá
Também é um sinal de que os tempos mudaram, e muito: há alguns anos a culpa recairia inteiramente sobre a possível vítima, que teria bebido demais e "não se dado ao respeito". Hoje há nuances, pontos de vista diferentes, atenuadores e complicadores.
Esta já é um questão interessante por si só, mas o caso Daniel-Monique também trouxe mais uma vez à berlinda a baixaria televisiva. É ótimo que se fale sobre ética na TV. O escândalo ajudou a subir a audiência do "BBB" no começo da semana passada, mas também assustou os anunciantes. Não me espantarei se o "reality show" não voltar em 2013 por falta de patrocínio.
Além do mais, os índices do "Big Brother" caíram assim que a poeira baixou um pouco. Sintoma de que o público não está lá tão interessado no dia-a-dia da "casa mais vigiada do Brasil". Apesar do que diz Carlos Nascimento, não somos tão fúteis assim.
Não que um pouco de futilidade não faça bem de vez em quando. Eu adoro, e você também --caso contrário, não estaria aqui no "F5", um site de entretenimento. Acho até saudável um país inteiro incorporar na linguagem cotidiana uma frase engraçada proferida num comercial da Paraíba.
E digo mais: "menos Luiza, que está no Canadá" não é só uma bordão sem sentido. É também uma senha, uma maneira de nos identificarmos no escuro. Quem a repete está dizendo que está plugado na internet, e quem ouve e ri está confirmando que sim, também faz parte do mesmo grupo. Estamos juntos!
Bordões são um fenômeno típico da era da comunicação de massas. Nasceram no teatro de revista, se espalharam com o rádio e assumiram proporções nacionais a partir da televisão. Na era da internet, ganharam velocidade praticamente instantânea. Não estamos mais burros agora, Nascimento: só estamos mais rápidos.
Futilidade mesmo é achar ruim que se fale de Luiza, porque daqui a alguns dias ela será esquecida e substituída por um novo "meme". Assim como é miopia não perceber que a web mudou a maneira como nos relacionamos com a cultura e uns com os outros.
O que aconteceu no Brasil semana passada talvez seja visto no futuro como um divisor de águas: as redes sociais influíram de maneira inédita no noticiário. A circulação de informação, a possibilidade de resposta imediata, a capacidade de mobilização, tudo isto só nos deixa mais inteligentes.

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