Fernando Barbosa/Márcia Feitosa
O réu chegou da Penitenciária Federal, em Mossoró, no Rio Grande do
Norte, onde está preso, escoltado por agentes penitenciários federais.
(Foto: Mara Beatriz)
Depois de quatro anos, o iraniano Farhad Marvizi, 50, o ´Tony´, apontado
como mandante da tentativa de homicídio contra o auditor da Receita
Federal José de Jesus Ferreira, ocorrida no dia 9 de dezembro de 2008,
no bairro Varjota, foi condenado, ontem, a 20 anos de prisão pela
Justiça Federal no Ceará.
Após 11 horas de julgamento, o Conselho de Sentença acatou a tese do
Ministério Público Federal e condenou o estrangeiro. O juiz Danilo
Fontenele Sampaio, da 11ª Vara Federal, que presidiu o julgamento,
afirmou ter na considerado na sentença, a personalidade e a conduta
social do acusado e que "o crime praticado atingiu o grau máximo de
censurabilidade que a violação da lei penal pode atingir".
Disse ainda na decisão, que "as circunstâncias delineadas nos autos
demonstram que o réu agiu com frieza, premeditadamente, em razão de
sentimento egoístico e baixo, em desprezo pela vida da vítima e pelo
destino de todos os seus familiares, sob a premissa de que a vítima não
poderia, em cumprimento da lei, fazê-lo responsável pelos atos ilícitos
praticados".
Durante o julgamento, Farhad Marvizi negou a acusação e disse nunca ter
mandado matar ninguém. Segundo ele, sua postura de "pessoa religiosa e
de bons costumes" impossibilitaria este tipo de prática. No entanto, o
auditor José Jesus Ferreira, confirmou a versão que apontava o réu como
culpado pelo atentado que sofrera.
O procurador da República, Samuel Miranda Arruda, iniciou sua fala e
sustentou a tese do Ministério Público de que o iraniano agiu por um
"motivo fútil, em face de rancor em razão da fiscalização que gerou
apreensões nas empresas dele". O assistente de acusação, advogado
Maurício Colomba, ratificou a fala do procurador, e ressaltou a
gravidade da tentativa de homicídio, ocorrida mediante pagamento e
emboscada.
A defesa de Marvizi, representado pelos advogados Flávio Jacinto e
Waldir Xavier, sustentou que o Ministério Público estava acusando seu
cliente sem provas. Disse ainda que, "a inocência deve ser preservada e a
dúvida beneficia o réu". Os assistentes de acusação e os procuradores
Rômulo Moreira Conrado e Samuel Miranda Arruda, usaram a tréplica para
reafirmar as razões pelas quais consideravam o réu culpado. No fim, os
jurados acataram a tese da acusação de tentativa de homicídio
triplamente qualificado.
Outras acusações
Além do atentado contra o auditor fiscal, o iraniano é apontado pela
Polícia como chefe de uma organização criminosa que atuava no
contrabando de mercadorias. Também é acusado de crimes como homicídios,
enriquecimento ilícito, sonegação fiscal e, formação de quadrilha.
Sindifisco realiza protesto no Fórum
O auditor da Receita Federal José de Jesus Ferreira foi recebido com
abraços pelos colegas de trabalho depois de prestar depoimento FOTO:
EDILENE VASCONCELOS
Antes da chegada do iraniano Farhad Marvizi ao prédio da Justiça
Federal, no Centro, os auditores fiscais da Receita Federal do Brasil
realizaram manifestação pacífica contra a impunidade. O ato contou com a
presença de membros da categoria do Ceará e de outros Estados.
O presidente do Sindifisco no Ceará, Marcelo Maciel, lembrou que o
atentado contra Jesus Ferreira foi crime contra o Estado, pois atingiu
um agente público durante o estrito cumprimento do dever.
O representante da categoria ressaltou que os agentes públicos são
vítimas de atentados diariamente, em todo o Brasil, sem que o estado
ofereça segurança aos funcionários. Marcelo Maciel destacou que Jesus
Ferreira é um dos poucos sobreviventes.
O presidente nacional do Sindifisco, Pedro Delarue, lembrou que o crime
contra Jesus Ferreira teve repercussão nacional. Delarue disse que a
manifestação serve para alertar a sociedade. Segundo ele, esse tipo de
crime não pode ficar impune e que o estado deve dar garantias de
segurança aos servidores, para que esses possam desempenhar a função
como deve ser.
Indignação
Por volta de 10 horas, Jesus Ferreira saiu da sala de julgamento, onde
prestou depoimento e se dirigiu à praça onde os manifestantes estavam
acampados e foi recebido com abraços e aplausos. Ele foi enfático em
lembrar que Farhad Marvizi é chefe de uma quadrilha internacional e que
achava que ficaria impune o tempo todo.
O auditor fiscal, vítima da tentativa de assassinato, lembrou que ele é
quem está em prisão domiciliar, pois vive cercado por seguranças, pagos
pelo Sindifisco-CE. "Eu não posso nem fazer uma caminhada, porque corro
risco de ser assassinado a qualquer momento", afirmou, acrescentando que
isso se faz necessário porque ninguém sabe quantos bandidos a serviço
de Marvizi ainda estão soltos.
O auditor fiscal ressaltou que ficou seis meses tetraplégico, mas
recuperou-se e voltou a trabalhar um ano e nove meses depois do
atentado. "Eu confio na Justiça de Deus e na consciência dos jurados".
Ele acrescentou que "prender um rico não é difícil. O difícil é mantê-lo
preso". Desde 2008, o Sindifisco arca com as despesas médicas,
assistência jurídica e segurança dele.
Fonte: Diário do Nordeste
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