Há frutos que chegam a mais de três quilos, além do sabor adocicado,
típico da região (Foto: Diário do Nordeste)
Uma alternativa de cultivo adequada ao clima e solo da Chapada do
Araripe tem obtido a adesão dos pequenos produtores rurais. O fruto do
abacaxi, quase banido das plantações na serra nos anos 70, por conta da
praga da fusariose, volta com força, por meio do Programa de
Revitalização.
O município de Porteiras abre um novo caminho para os agricultores que
sobreviviam apenas do incipiente cultivo da mandioca, milho e feijão,
nos tempos mais chuvosos. Pelo menos 16 produtores inauguram uma nova
realidade e investem no cultivo orientado do fruto. Os resultados têm
sido a boa lucratividade e a crescente adesão dos produtores. São mais
de 200 hectares de cultivo na região, área liderada por Santana do
Cariri, que chegou a ter a maior produção do Estado, décadas atrás.
Pioneiro
O gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará
(Ematerce), Sérgio Linhares, atuou de forma pioneira na reintrodução do
cultivo, na área marcada pela grande produtividade no passado. E a
vantagem é que o fruto do Cariri possui maior qualidade. Em Porteiras,
onde os produtores estão colhendo desde agosto, com período que se
estende até o mês de janeiro, há frutos que chegam a mais de três
quilos, além do sabor adocicado, o que caracteriza o fruto da Chapada.
Em pouco mais de cinco anos, são 22 hectares de área plantada. Em
Santana, são 180ha, mas o cultivo na localidade começou bem antes, no
ano 2000.
A oportunidade de cultivar o produto, que exige pouca água, com
financiamentos por meio Programa Nacional de Fortalecimentos da
Agricultura Familiar (Pronaf), através do Banco do Nordeste e Banco do
Brasil, tem sido um incentivo a mais nesse processo, além do
acompanhamento técnico. As primeiras mudas cultivadas em Porteiras foram
adquiridas em Santana do Cariri. Os produtores visitaram às áreas de
cultivo no município pioneiro para conhecer o que para eles hoje é uma
nova realidade. Alguns desses já pensam em novos investimentos de
mecanização e transporte.
Ampliação
Um dos maiores produtores de Porteiras é agricultor Cícero Antônio dos
Santos, conhecido por Tita. Ele decidiu investir numa pequena área na
localidade do Sítio Malhada Redonda. O pequeno plantio inicial foi o
grande estímulo para abrir espaço, junto com o pai e o irmão, e ampliar a
plantação, que chega a 6ha e 80 mil pés de abacaxi. Hoje, ele pensa em
adquirir um veículo para a venda do fruto nos supermercados e na própria
Central de Abastecimento do Cariri (Ceasa). "Antes cultivava a
mandioca, mas não dava lucro e acabava acomodando", diz ele. O
agricultor destaca até as vantagens econômicas que envolve uma técnica
simples, sem necessitar realizar queimadas de área, além de contar com
poucas pessoas trabalhando.
A venda ocorre para várias cidades da Região, a exemplo da própria
Porteiras, Barbalha, Jardim, Crato, Juazeiro do Norte, entre outras
cidades. "Não dá para quem quer. A gente vende dentro da roça", diz
Cícero. Ano passado, durante a Festa do Abacaxi, realizada à sombra de
um pequizeiro na própria área de cultivo, foram vendidos 1.200 frutos. O
agricultor tem obtido lucro também com a venda de mudas. Em 2011,
chegou a vender cerca de R$ 8 mil, facilitando o cultivo para outros
pequenos produtores da cidade.
O sucesso das primeiras experiências, segundo Sérgio Linhares, tem sido
importante e chama a atenção da viabilidade do cultivo para os outros
produtores. Ele acredita que, em poucos anos, a realidade da cidade
possa mudar e o fruto passe a se reverter em importante fonte da
economia local, chegando a ter um dos maiores cultivos da região. Outras
cidades, conforme o gerente, despontam com grande potencial, como é o
caso de Jardim, Barbalha, Caririaçu, Araripe e Missão Velha.
A gerente local da Ematerce, em Porteiras, Fátima Benício, afirma que
dez produtores conheceram inicialmente as técnicas de cultivo de abacaxi
em Santana do Cariri. Eles visitaram uma das áreas mais desenvolvidas
em 2007. O incentivo para iniciar a nova cultura começou em seguida, mas
alguns produtores tiveram dificuldade de se adaptar ao cultivo, por
conta do solo, como foi o caso de José Roberto Araújo, do Sítio Malhada
Redonda. Depois de duas tentativas fracassadas, conta atualmente com uma
área de 2ha, com 30 mil pés e uma lucratividade líquida anual de R$
21.500,00.
Uma experiência irrigada está sendo iniciada numa área de menos de 1ha. O
cultivo acontece no Sítio Moreira, pelo agricultor Raimundo Cícero da
Silva. A técnica da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente da cidade,
Edna Cleide da Silva, comemora a nova realidade de vida dos
agricultores. O que no início dependeu de uma grande dificuldade,
inclusive para que as pessoas acreditassem na viabilidade, hoje ganha
mercado e desponta como um novo momento da agricultura da pequena
cidade.
Com o trabalho orientado, o controle da fusariose, doença que danifica a
polpa do fruto, passa a ser feito com mudas sadias e a eliminação das
plantas doentes. Com a técnica e os cuidados devidos, o cultivo do fruto
da família das bromeliáceas resiste com mais vigor que a cultura de
sequeiro na serra, dando sinal de uma nova realidade ao pequeno
agricultor.
Fonte: Diário do Nordeste
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