Semana santa
30.03.2013
Juazeiro do Norte. Milhares de pessoas repetem a tradição e vão até à Colina do Horto, na Sexta-Feira da Paixão. Grande parte dos peregrinos percorre vários quilômetros a pé, em sacrifício, até a estátua do Padre Cícero e o Santo Sepulcro. Este ano, nem mesmo a chuva foi empecilho. Normalmente, as pessoas saem a pé durante a madrugada e chegam ao amanhecer do dia, numa das áreas mais altas da região do Cariri. A preparação da administração do Horto para receber os visitantes e romeiros acontece há vários dias. A estimativa da administração do Horto é que passem pelo local até o próximo domingo cerca de 200 mil pessoas.
O movimento começou já na quinta e deve prosseguir até amanhã, na Páscoa Fotos: Elizângela Santos
A maioria das pessoas, vinda do Centro e bairros de Juazeiro e também de outras cidades da região e Estados vizinhos, sobe a pé até a estátua pela Rua do Horto, conhecida como a estrada velha. A movimentação começou desde a noite de quinta-feira. Por conta das chuvas, ainda pela manhã, era grande movimentação até o meio-dia de ontem e continuou até o fim da tarde.
Vários romeiros escolhem como roteiro de feriado, passar o período da Semana Santa em Juazeiro.
Muitas pessoas aproveitam o momento de reflexão para pagar promessas, como é o caso da empregada doméstica Maria Edlane Ferreira dos Santos. Ela decidiu subir as escadarias do monumento do Padre Cícero, de joelhos, para suplicar uma graça do Padre Cícero.
"Pedi para ele tirar de mim uma bruxaria que colocaram há pouco mais de um mês". Segundo ela, o sacrifício foi importante e vale à pena, porque já se sentia melhor. Vestida de preto e com um terço no pescoço, fez as suas orações finais ao pé da estátua, para concretizar a sua promessa.
Já o comerciante, Francisco Germano Borges, há 11 anos percorre do bairro Salesiano, em Juazeiro, até a estátua, mais de 3 quilômetros, a pé. Ontem saiu um pouco antes do que de costume. Ao invés das 4 horas, decidiu sair às 6h30. O percurso, neste ano, também foi um pouco mais curto. Ele não seguiu até o Santo Sepulcro, por conta da chuva. Durante a manhã, muita lama pela cidade. Nas proximidades do Parque São Geraldo, uma árvore desabou, causando prejuízos aos moradores de três casas que foram atingidas. O Corpo de Bombeiros esteve no local, mas não houve vítimas.
Para facilitar o fluxo de peregrinos, foi impedida a passagem de veículos pela Estrada Velha. Na Rua do Horto, os romeiros pagam promessas, subindo a pé a ladeira de mais de 2 quilômetros. Até a chegada ao monumento do Padre Cícero, algumas paradas nas 14 estações, em concreto, que retratam os momentos da crucificação de Jesus. As pessoas acendem velas e rezam nesses locais.
Como forma de organizar a visitação no Museu Vivo do Padre Cícero e na estátua, os agentes do Tiro de Guerra iniciaram, desde às 6 horas, a organização das filas para o acesso a esses locais. Para chegar até o monumento, os romeiros seguiam em uma grande fila que se formou em torno da base da estátua.
Para facilitar o acesso à Colina do Horto, foi elaborado um plano de trânsito pelo Departamento Municipal de Trânsito (Demutran). Desde a última quinta-feira, foi proibido o acesso de veículos pela ladeira que dá acesso ao local. Essa é uma medida de segurança, por conta da grande quantidade de pessoas que descem e sobem pela Estrada Velha. O administrador do Horto, Padre Venturelli, afirma que o grande número de romeiros se dá pelo revezamento dos visitantes durante todo o dia. A começar das primeiras horas da manhã, quando chega a maioria dos fiéis de cidades como Crato e Barbalha. "Chega uma remessa de pessoas e enche o local, e depois esvazia, com grande parte que segue em direção ao Santo Sepulcro", constata.
Lei Seca
Há muitos anos vem sendo feito um trabalho, no sentido de coibir a comercialização de bebidas alcoólicas na área, mas muitas pessoas não dispensam o vinho, durante a subida. Por conta disso, também foi reforçado o policiamento. Várias celebrações aconteceram durante o dia e à noite na Capela do Bom Jesus do Horto. Encenações e shows com bandas religiosas foram reservados para o local, para onde as pessoas se deslocam após chegarem à Colina. Apresentação da dramatização "Jesus , o Nazareno", com o grupo Compactur, aconteceu pela manhã.
ENQUETE
Por que fazer a peregrinação?
"Saí de Vertente, em Pernambuco, para vir até o Juazeiro neste período e faço isso há muitos anos. Meus pais vinham, a pé, e passavam mais de uma semana para chegar até aqui"
Josefa Pereira do Nascimento
Aposentada
"Há mais de 40 dias estou sem beber. Vim a pé de Juazeiro até o Horto. São 11 anos, em sacrifício, para chegar a esse lugar sagrado. Estou me sentindo muito bem. Pretendo largar a bebida"
Francisco Germano Borges
Comerciante
Mais informações
Secretaria de Turismo e Romaria de Juazeiro do Norte
Colina do Horto
Região do Cariri
Telefone: (88) 3511.6006
Malhação do Judas revive festa pagã
Crato. Hoje é comemorado o Sábado de Aleluia entre os cristãos. Mas a tradição popular realiza na data a festa profana da malhação do Judas. O evento, que acontece de forma espontânea, ao ar livre, em várias cidades, geralmente, envolve comunidades inteiras durante a fabricação do boneco e montagem do sítio do Judas.
Costuma reunir muitos espectadores. A manifestação, assim como as demais que têm cunho profano e religioso existentes na humanidade, foi herdada dos primitivos cultos agrários surgidos antes de Cristo. Os espetáculos detêm uma carga de significação que revivem a festa pagã das capitais romanas. Estes festejos, somente após a popularidade que tomou na Península Ibérica, foram radicados para o âmbito da América Latina.
O boneco que representará o judas foi confeccionado pelo artista plástico Everardo Aguiar e será explodido ainda hoje foto: Yaçanã Neponucena
No Cariri a festa existe desde o início do processo de colonização da região. Em Crato, a mais antiga malhação do Judas é realizada na da comunidade Sagrada Família. Entretanto, nos últimos anos, a festa acontece no Largo da Rffsa e vem tomando grandes proporções. Chama a atenção pelo seu caráter político e de envolvimento da população.
Há exatos 13 anos, a Sociedade Cariri das Artes faz a releitura da morte de Judas Iscariotes, personagem que traiu Jesus na história bíblica. Para isso, anualmente é realizada uma eleição do “traidor” do povo cratense.
Este ano, por seus posicionamentos preconceituosos em relação aos homossexuais, cujas pregações disseminam a homofobia e a intolerância religiosa, o eleito foi o pastor Silas Malafaia. Na festa do município ele está sendo identificado como “O Pastor Homofóbico”.
O boneco foi confeccionado pelo artista plástico Everardo Aguiar Oliveira. Tem três metros de altura e simboliza o “acerto de contas” do povo com a postura do pastor que, segundo os 4.300 votantes, foi o personagem que mais incomodou a população cratense.
Com o apoio de artistas populares, bandas cabaçais, grupos de caretas e da sociedade haverá um cortejo que seguirá pelas principais pelas ruas da cidade até chegar ao Centro Cultural do Araripe, onde, às 19 horas, será realizado o tradicional roubo ao sítio do Judas e a explosão do boneco figurante.
Protesto
Haverá um protesto contra as posições e pregações que disseminam a homofobia e a intolerância religiosa e diversos shows de forró pé de serra. A concentração está marcada para as 15 horas, na Praça São Vicente. Ao todo, estão sendo esperadas mais de duas mil pessoas.
Nesta edição, após o resultado da eleição do personagem, os membros da Igreja Madureira Assembleia de Deus, instalada no Crato, procuraram a Defensoria Pública do Estado para reclamar sobre a realização da festa. Segundo eles, a escolha do nome do pastor Silas Malafaia, como Judas, feriu os princípios da religião evangélica, já que o eleito é representante nacional desta comunidade.
Porém, a proposta de desassociação do nome e semelhança da imagem do boneco com o pastor não foi aceita pelos organizadores do evento, que mantiveram a decisão estabelecida pela eleição. De acordo com dramaturgo Cacá Araújo, organizador do evento, o ritual fortalece a identidade cultural da região. “Pelo fato de sempre ter uma abordagem polêmica, a malhação reúne muita gente no processo de discussão e debates sobre os temas abordados. Como reflexos, vejo que há um reencontro do povo com a própria ancestralidade”, revela.
A malhação do Judas é uma manifestação tradicional que se insere no contexto cultural como um ritual de complexidade. Como em todos as demais festa do gênero, o Judas costuma deixar seu testamento. O documento é publicado em versos populares e o personagem passa sua herança para pessoas da comunidade, em clima de humor.
No Município de Jardim, a programação teve início no último dia 28, com uma passeata do pau do Judas, pelas principais ruas da cidade. O cortejo foi acompanhado pelos caretas. Na linguagem historiográfica, estes significam a imagem satânica. Já no dia seguinte, o boneco foi exibido também em marcha coletiva. Amanhã, às 15 horas, no Curral do Gado, acontecerá a tradicional malhação. Logo após, haverá apresentações de artistas regionais, além de um festival de máscaras.
Em Jardim, a malhação do Judas já se configura como um dos principais eventos culturais do município. A festa teve início no final do século XIX, quando era um hábito restrito as comunidades rurais.
Mais informações
Malhação do Judas; no Crato
concentração às 15h, na Praça São Vicente, e no largo da Rffesa, às 19h, o boneco será explodido. Em Jardim, amanhã, 15h, no Sítio Morro do Tetéu -Curral do Gado
Eventos gratuitos
ELIZÂNGELA SANTOS/ YAÇANÃ NEPOMUCENO
REPÓRTERES
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