Atualizado em
05/04/2013 14h42
Compositor rejeita músicas que 'agridam moral e ética da família brasileira'.
Dupla com Fabiano lança DVD no Rio: 'Quero que sertanejo suba o morro'.
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César Menotti (à esquerda) e Fabiano (Foto:
Divulgação)
Divulgação)
Dois anos após a pausa nos lançamentos, canções "sertanejas de verdade", como eles definem "O menino da porteira", "Boiadeiro errante" e "Estrada da vida", estão presentes no novo CD e DVD, "Ao vivo no morro da urca" – é uma forma de homenagear o pai.
Onomatopeias de teor sexual e letras sobre bebedeiras, presentes em vários sucessos atuais do mercado sertanejo, não têm espaço no DVD. "Por questão de princípios que sempre aplicamos no trabalho, de letras que não agridam a moral e a ética da família brasileira, do nosso ponto de vista", explica o compositor.
Menotti também comenta a dificuldade de consolidar o sucesso com o público carioca – "o Rio foi a última cidade para onde conseguimos levar a nossa música" – e lembra crítica sofrida no início pela aparência. "Com esse físico eles não vão a lugar nenhum", o cantor diz ter ouvido.
G1 - Por que escolheram o Rio para gravar o CD e DVD?
César Menotti - A gente sempre quis levar a música sertaneja para os lugares aonde não tivesse chegando ainda. O Rio foi a última cidade para onde conseguimos levar a nossa música. E o Rio é a única capital do país que influencia o interior, e não o contrário. Todas as capitais, São Paulo, todas – é o interior que influencia a capital. Mas no Rio, é o funk que desce o morro e invade o Brasil. A gente quis o inverso: fazer a musica sertaneja subir o morro.
G1 - Mas acha que ainda há resistência do povo carioca contra a música sertaneja?
César Menotti - Não mais. As boates do Rio, aqueles clubes mais cariocas, hoje já têm música sertaneja.
G1 - E quando notaram que o Rio já havia sido ‘conquistado’?
César Menotti - Da primeira vez que fomos, há quatro anos...
G1 - Há quatro anos? Vocês já faziam bastante sucesso...
César Menotti - Sim, menos lá [no Rio]. E aí fizemos o Canecão, com três dias de ingressos esgotados. Ficamos felizes. Mas acaba que o Canecão, por ser muito popular, vai muita gente de Minas, SP. Aí resolvemos fazer algo para cariocas. Há dois anos e meio fizemos uma boate no Jóquei Clube, para cariocas, e na Lapa. E vimos que era o público local mesmo.
G1 - Vocês ficaram dois anos sem lançar disco, após a morte do seu pai, em 2011. Como isso afetou vocês?
César Menotti - A gente se reservou um tempo, não quisemos lançar nada por pressão de mercado, gravadora. Não estávamos bem. Quando nos sentimos confortáveis para trabalhar, lançamos esse novo projeto.
G1 - Estes últimos dois anos foram bastante aquecidos no mercado sertanejo. Deu ansiedade ficar sem lançar disco nesse tempo?
César Menotti - Não, de forma alguma. Não tem como a gente estourar de novo. Isso já aconteceu com a gente em 2006, 2007. Estamos seguros, estabilizados, a nossa proposta já é outra. Não é fazer 25 shows por mês. Chegamos a fazer 27 por mês. Hoje podemos selecionar um pouco mais. De 12 a 15 shows. E tem as viagens, as distâncias, no final são mais dias.
G1 - O repertório deste DVD, com muita música sertaneja antiga, de raiz, foi pensado por causa do pai de vocês?
César Menotti - A música de raiz já estaria presente, porque a gente gosta. Somos fãs e é a nossa base. Mas quisemos aproveitar para fazer uma homenagem ao nosso pai. Se hoje existe essa dupla é por causa dele. Ele trilhou esse caminho para a gente.
G1 - Seu pai era garimpeiro e gostava muito de música sertaneja. Quais lembranças vocês têm dele relacionadas à música?
César Menotti - Meu pai foi o maior fã de moda de viola que eu já conheci. Ele levava a gente criança a São Paulo, na praça Júlio Mesquita, onde os grandes violeiros se encontravam - Tião Carreiro, Tonico e Tinoco -, e lá a gente teve o primeiro contato com a música caipira. Ele me ensinou a cantar, fazer primeira e segunda voz. Eu não entendia, achava um saco. Mas depois eu fui entender o que era.
G1 - Como viajar pelo Brasil, sendo filhos de garimpeiro, mudou a visão de vocês do país, influenciou na sua música?
César Menotti - A diferença cultural é muito grande, mas ao mesmo tempo a música vai além disso, é uma linguagem universal. Nessa semana tocamos no Sul, em Santa Catarina. Agora, quarta feira, viaja e vai para o Pará. De uma semana para outra, vamos para dois extremos, e com a mesma música, chegando lá com a mesma recepção do público.
G1 - No DVD, antes de cantar as músicas mais antigas, vocês dizem: “Queremos cantar umas músicas sertanejas de verdade”. Você acha que há coisas tachadas de sertanejas que não são sertanejas de verdade?
César Menotti - Eu acho a real expressão desse termo é falar da música de raiz. A música sertaneja realmente se difundiu muito, e o que ela resguardou da originalidade é a cultura de cantar em dupla. E muita coisa se perdeu no caminho – os princípios, a história, os temas. Quando eu falo de cantar música sertaneja de verdade, é musica que fala do sertão.
César Menotti - Com certeza eu me preocupo. Nós cantamos um sertanejo contemporâneo. Mas nossa raiz está lá no Tonico & Tinoco. E quando é preciso a gente vai lá na fonte e experimenta.
(Clique ao lado para ver César Menotti & Fabiano cantarem "Menino da porteira" no "Estúdio G1")
G1 - Neste DVD, vocês voltam sem absorver a onda de letras de música sertaneja com onomatopeias de teor sexual e de sobre bebedeira. Por quê?
César Menotti - Por questão de princípios que sempre aplicamos no trabalho, de letras que não agridam a moral e a ética da família brasileira, do nosso ponto de vista.
G1 - Vocês são evangélicos. Quando vão compor, ou escolher as músicas que oferecem para vocês gravarem, a religião influencia?
César Menotti - De forma nenhuma, porque não somos religiosos. Religião afasta as pessoas, e Deus aproxima. O que faz a gente selecionar as músicas do repertório são os nossos princípios morais.
G1 - E quais são esses princípios?
César Menotti - Qualquer coisa que vá contra a realidade da estrutura familiar brasileira. Fico muito preocupado também com o que vamos passar para o público infantil, o que vamos estar ensinando e passando para as crianças.
César Menotti - Não, porque na verdade foi uma música que eu fiz junto com o Bruno – do Sorriso Maroto. Desde o princípio era uma ideia mais “de lá pra cá”. Não cheguei nem a pensar. A ideia partiu dele.
G1 - Vocês passaram por muita dificuldade no começo em Belo Horizonte, de gente falando que não ia dar certo? Tem algum momento marcante nisso?
César Menotti - A gente veio fora dos padrões. Normalmente sertanejo era muito ligado a ser galã. E a gente fugia completamente do padrão. O Jackson Antunes fez um show uma vez no Mistura Fina, no Rio, e chamou a gente para tocar viola e cantar música caipira. E levou um presidente de uma multinacional para assistir. Esse cara gostou, assistiu, mas disse: “Olha Jackson, esses meninos têm talento, mas com esse físico eles não vão a lugar nenhum”.
G1 - O mercado sertanejo, quando vocês começaram, não era tão bom quanto hoje. Vocês ajudaram a abri-lo ainda mais. Como foi a dificuldade desses anos em BH? Tiveram contato com outros artistas que batalhavam na época também, como a Paula Fernandes?
César Menotti - A gente não era tão próximo, amigos, mas éramos conhecidos. A Paula, talvez pelo fato de ser mulher, e cantar sozinha, talvez tenha tido uma dificuldade de cantar maior, porque culturalmente a dupla sempre foi mais fácil de trabalhar no mercado. Nós ficamos amigos agora, depois tocando por todo o Brasil. Com outros artistas, tivemos mais contato, como o Eduardo Costa, chegamos até a morar junto no passado. Ele ficou na nossa casa, no Bairro Caiçara. Estávamos sempre junto, enfrentando as dificuldades da vida. Mas nessa época tocamos muito em botecos em BH. Aprendemos muito. Chegamos a fazer show com oito pessoas em casa noturna de BH.
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