segunda-feira, 1 de abril de 2013

Corintianos presos há um mês na Bolívia relatam condições da cadeia


  Atualizado em 31/03/2013 21h31

Doze corintianos estão presos há mais de um mês, na cidade de Oruru, na Bolívia, e respondem pela morte de um torcedor boliviano, atingido por um sinalizador num jogo da Libertadores.

O Fantástico chama a atenção para um drama ainda sem desfecho. É a história dos doze corintianos presos na Bolívia há mais de um mês. Eles respondem pela morte de um torcedor boliviano, atingido por um sinalizador num jogo da Libertadores, em fevereiro. A defesa anunciou que pretende recorrer a cortes internacionais para tentar a libertação.
Nesta semana, o grupo recebeu a visita do presidente da Comissão de Relações Exteriores do senado, e falou da angústia que tem vivido.
“Isso não existe”. A declaração é de um dos doze corintianos presos há 38 dias na penitenciária San Pedro, em Oruro, na Bolívia.
No começo da semana, eles receberam a visita do presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O encontro foi gravado por um fotógrafo que acompanhou a reunião.
“Cabe à Justiça boliviana provar a nossa culpa. Mostrar para o mundo que nós somos culpados”.
“Eles estão assustados, amedrontados, sentem claramente que estão correndo risco de vida, porque é uma prisão pra 200 pessoas, com 1.500. Uma condição muito  primitiva comparada às nossas piores penitenciarias no Brasil”, explica senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de relações Exteriores.
Dentro do presídio em Oruro há um orelhão. Nós vamos ligar então nesse telefone público agora pra tentar falar com os torcedores.
Conseguimos conversar com Danilo. “Tenho trabalho, tenho residência fixa e por isso até, eu sou inocente e tô aqui ainda. Eu não entendo”, afirma Danilo Silva de Oliveira, auxiliar de logística.
Danilo, de 27 anos, conta que é formado em comércio exterior e trabalha como auxiliar de logística. Disse que emagreceu doze quilos na prisão.
“Semana passada eu peguei infecção urinária. Eu, particularmente, já fui mais de 5 vezes aqui no médico”.
Marco Aurélio, outro torcedor preso, descreveu a cadeia.
São duas celas e estamo divididos em 6 e 6, uma cela tipo 2 metros por 4 de largura assim. Tem 3 colchões, nois forra, cada um dorme tipo em 2, entendeu?”, conta Marco Aurélio Nefreire, corretor de imóveis.
Ele tem 30 anos, diz que é corretor de imóveis e tem três filhos. A mulher está grávida de oito meses.
“Eu to aqui, não sei se vou conseguir a tempo de ver o nascimento do meu filho que provavelmente tá previsto pro dia 15 ao dia 20 do mês de abril”.
Os 12 estão presos desde a morte de Kevin Beltran espada, de 14 anos, em 20 de fevereiro. Kevin foi atingido na cabeça por um sinalizador, durante o jogo entre Corinthians e San José, em Oruro. A justiça boliviana diz que os brasileiros estão envolvidos.
Os advogados que defendem os torcedores dizem que não conseguem ter acesso ao processo na Bolívia. Eles afirmam que ainda nem sabem exatamente do que os brasileiros estão sendo acusados.
“Podemos dizer, sem dúvida, que nós temos 12 brasileiros, hoje, sequestrados num presídio em Oruro na Bolívia”, afirma Maristela Basso, advogada corintianos.
“Como é que uma juíza faz uma audiência de 9 horas, em duas partes, e se julga incompetente pra definir o caso, pra dar a nossa liberdade e julga o nosso pedido de liberdade improcedente, cara”, pergunta um dos torcedores
Este doutor em direito internacional, diz que a Justiça de lá está cumprindo o prazo das leis do país. Segundo ele, na Bolívia, a prisão preventiva pode chegar a dois anos. E há uma outra razão para eles não serem soltos.
“Os países tem medo de liberar aquelas pessoas pro seu país de origem, como está acontecendo na Bolívia, especialmente porque, no Brasil,  em uma regra de que não se extradita nacionais. Se, eventualmente, tem uma sentença condenatória e  e eles teriam que cumprir pena lá, eles não poderão nunca ser extraditados pra Bolívia, porque é uma garantia constitucional do direito brasileiro”,
Um menor que mora na região metropolitana de São Paulo assumiu ter feito o disparo. O rapaz, de 17 anos, se apresentou à justiça brasileira e foi liberado.
O Ministério Público de São Paulo já enviou o depoimento dele à Bolívia, por meio do Ministério das Relações Exteriores.
Mas a justiça boliviana ainda não se manifestou sobre isso.
“Tudo foi feito. Todos os recursos jurídicos, legais, foram implementados. Todavia, a justiça não respondeu. A justiça boliviana não respondeu a esses pedidos de esclarecimento, aos habeas corpus, às apelações”.
O senador que visitou os brasileiros, acredita em um outro motivo para eles estarem presos até hoje.
“Há um incomodo muito grande, um protesto muito grande por parte do governo boliviano em razão de nos termos concedido asilo político ao líder da oposição do governo boliviano que esta há quase um ano confinado na embaixada brasileira”.
O senador boliviano Roger Pinto Molina, abrigado na embaixada brasileira, alega ser perseguido por denunciar corrupção no governo de Evo Morales. Já o governo boliviano acusa Molina de vários crimes.  Entre eles, denúncia de venda irregular de terras estatais e repasse ilegal e sem controle de verbas públicas.
Em nota ao Fantástico, o Ministério das Relações Exteriores nega não confirma essas pressões. Diz que o "cidadão brasileiro não é moeda de troca em nenhuma situação." E que "em momento algum, houve menção nesse sentido por parte do governo boliviano."
O Itamaraty também afirma que a representação brasileira na Bolívia tem feito visitas frequentes ao grupo detido, para que os direitos humanos sejam respeitados.
Esta semana, os doze corintianos foram fotografados jogando bola na prisão. Eles usavam camisas em homenagem a Kevin Espada, com um pedido de liberdade para o grupo.
No dia 8 de abril, os torcedores devem deixar a prisão. Mas apenas para ir ao estádio, participar de uma reconstituição.
“Não tô entendendo. Isso é um preconceito com a torcida do Corinthians ou com brasileiros, enfim, tamo abandonado”, afirma Danilo.
“O que mais acontece no caso? Porque não deram a nossa liberdade, cara?”
Se nenhum recurso der certo, os advogados vão buscar outras alternativas.
“Vamos recorrer a organizações internacionais que possam interferir nesse caso, a alternativas política-jurídica-diplomática que são importantes e também, localmente, nos vamos  tentar medidas agora, digamos mais austeras perante cortes outras que não são apenas aquelas de Oruro”.

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