Edição do dia 28/04/2013
Atualizado em
28/04/2013 20h52
Bandidos mataram vítima porque ela só tinha R$ 30 para roubarem. Segundo investigações, quadrilha fez ao menos seis assaltos a consultórios.
A quadrilha já havia levado o terror a outros consultórios, mas nunca tinha ido tão longe. A reportagem de Valmir Salaro mostra como esses criminosos atuavam, e como a família da dentista assassinada tenta reagir.
No escritório de Cinthya Moutinho de Souza, nada foi mexido depois do crime brutal da última quinta-feira (25). “Quando eu entrei aqui, ela estava caída. Estava em chamas ainda. Isso aqui são as cinzas da roupa dela”, mostra o pai de Cinthya.
Cinthya foi queimada viva dentro do consultório dela, no Jardim Hollywood, em São Bernardo do Campo, Região Metropolitana de São Paulo. Segundo a polícia, os bandidos resolveram matá-la porque a dentista tinha apenas R$ 30 no banco.
O Fantástico vai contar detalhes do que aconteceu no consultório, como a quadrilha agiu em outros casos e quem são esses criminosos.
Na madrugada de sábado (27), em uma favela em Diadema, cidade vizinha de São Bernardo do Campo, foram presos três acusados de matar a dentista.
Victor Miguel de Souza, de 24 anos, estava dormindo quando os policiais o encontraram. “Assemelhava-se muito com a pessoa descrita no retrato-falado, e imobilizamos o mesmo”, afirma um homem.
Dentro da mochila dele, os policiais encontraram uma pistola, provavelmente usada nos assaltos. E de lá, os policiais saíram para prender outros dois envolvidos na morte da dentista Cinthya.
Os dois estavam em um quarto, na mesma favela. Um deles é adolescente, de 17 anos, que riu e fez um gesto obsceno para a câmera do Fantástico.
Um vídeo obtido pelo Fantástico mostra quando ele confessa ter jogado álcool e ateado fogo na dentista. Sobre como fez isso, o adolescente responde: “Foi isqueiro”.
O terceiro acusado preso no sábado, que também pintou o cabelo quando soube que estava sendo procurado é Jonatas Cassiano Araújo, de 21 anos. É ele que foi a uma loja de conveniência sacar os R$ 30 da conta da dentista Cinthya.
Segundo as investigações, a quadrilha tem um histórico de crimes: fez pelos menos seis assaltos em consultórios odontológicos.
“Eles praticavam o terror para a vítima dizer quanto tinha na conta. Deixavam todas desesperadas”, afirma o delegado Marcos Gomes de Moura.
No dia 12 de abril, o alvo foi um consultório do Sacomã, Zona Sul de São Paulo. Fica a cerca de 9 quilômetros de onde Cinthya foi queimada viva. Os bandidos agiram praticamente da mesma forma: um deles fingiu que precisava de atendimento e a porta foi aberta. As vítimas foram amarradas e obrigadas a entregar tudo. Depois, parte da quadrilha foi a um posto de combustíveis.
As câmeras de segurança registraram quando chega o carro da marca Audi, dirigido por Jonatas. O veículo, ano 2003, é da mãe do rapaz. Quem desce é Victor Miguel de Souza, um dos presos no sábado. Victor vai ao caixa eletrônico e começa a fazer saques, usando os cartões e as senhas das vítimas.
O assaltante fica quase 10 minutos no caixa e retira R$ 1,3 mil. Antes de ir embora, ele pega uma garrafa d’água. Como não está gelada, escolhe outra e paga com o dinheiro que tinha acabado de roubar. Na sequência, os ladrões voltaram para o consultório e fugiram no carro da dentista.
Na quinta-feira, o veículo foi encontrado no condomínio onde Jonatas morava, em São Bernardo do Campo.
Quatro dias depois do assalto no Sacomã, os bandidos atacaram um consultório no Ipiranga, também na Zona Sul paulistana.
O Fantástico localizou uma das vítimas desse roubo. Ele conta que dez pessoas foram feitas reféns. “Me amarrou, outro veio por trás, botou a mão no meu pescoço. Outro, nos meus olhos. Agrediram, ameaçaram com isqueiro tocar fogo no cabelo da doutora. Meu prejuízo foi de R$ 1.400 em dinheiro, mais relógio e celular”, ele lembra.
Com os cartões bancários de outras duas vítimas, os ladrões ainda fizeram saques, no valor de R$ 1 mil. “Ele se comunicava com o outro, que estava no banco, para saber se estava dando certo. Se ela tinha passado a senha certa”, conta a vítima.
Nove dias se passaram até acontecer o assalto que terminou no assassinato de Cinthya Moutinho de Souza. No momento do crime, uma cliente estava no consultório.
Foi ela que contou que os bandidos ficaram irritados por causa dos R$ 30 que a dentista tinha na conta. O pai de Cinthya quase cruzou com os assaltantes.
“No que eu estava chegando, eles saíram. Aí a moça que estava sendo atendida saiu e gritou socorro. Um cara ia passando de carro, parou, viu fumaça e trouxe o extintor. Ele apagou o fogo que estava nela. Aí eu fui ver os sinais vitais dela, e não tinha mais”, relata o pai.
Os criminosos jogaram em Cinthya o álcool que é usado nos atendimentos, de alto grau de pureza.
Agora, a polícia procura Thiago de Jesus Pereira, de 25 anos. No vídeo, você vê o retrato-falado dele.
Segundo as investigações, Thiago participou dos assaltos e da morte da dentista.
Nascida em Belém do Pará, Cinthya tinha 46 anos. Era solteira e morava nos fundos do consultório, com a irmã e os pais. Muito querida no bairro, a dentista costumava atender de graça quem não tinha condições de pagar.
“Temos que ser fortes e não pode pensar em fraquejar”, diz o pai.
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