Quando começaram a participar das manifestações, em junho do ano
passado, Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa, ambos de 22 anos,
não imaginavam que poderiam terminar atrás das grades, em celas de cerca
de seis metros quadrados, respondendo a crimes pelos quais podem pegar
mais de 30 anos de prisão. Enquanto o primeiro tenta manter a calma
diante das acusações, agarrando-se a uma Bíblia, o outro permanece
calado, sem interesse em manter qualquer interação com agentes
penitenciários.
A dupla está presa, desde a semana passada, acusada pela morte do
cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, em protesto na Central
do Brasil. Caio está sozinho numa cela na galeria 1 da Cadeia Pública
José Frederico Matos. Desde que chegou na unidade, conversa com os
inspetores da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), para os
quais pediu uma Bíblia. Foi por meio dos guardas que ele soube o tempo
que poderia ficar preso. Desesperado, chorou e disse estar com vergonha
do pai, e preocupado com a mãe, que diz sustentar. Já Fábio pouco fala.
Ele está numa cela, na galeria G do Bandeira Stampa. Isolá-los foi uma
estratégia para mantê-los afastados dos outros presos, evitando que os
recém-chegados sejam influenciados por eles.
Ambos só receberam, até agora, visitas de advogados que foram até o
Complexo Penitenciário de Gericinó. Alguns, eles até dispensaram e não
quiserem ouvir. A dupla só poderá receber visitas de familiares e amigos
em cerca de 10 dias. Até lá, aguardam decisão da Justiça sobre a
conversão da prisão temporária em preventiva (que pode durar até o
término do processo), o que foi pedido na última sexta-feira pelo
delegado Maurício Luciano de Almeida.
Em suas conversas com agentes, Caio se diz ainda arrependido do que fez.
Ele relatou que gostaria de pedir desculpas à família do cinegrafista
da TV Bandeirantes Santiago Andrade, e também para seus próprios
parentes.
Sustentando a mãe
Caio trabalhava no Hospital estadual Rocha Faria, em Campo Grande, como
auxiliar operacional. Com o salário, sustentava a mãe, Marilene Mendonça
Silva de Souza, desempregada. O jovem relatou aos agentes
penitenciários que quem o ajudou a arrumar o emprego foi o pai, que
também trabalhava no local, mas como gesseiro. Caio morava com o pai,
Antônio Carlos de Souza, em Nilópolis, mesmo município da Baixada
Fluminense no qual vive a mãe.
Na sexta-feira, o EXTRA conseguiu falar pelo telefone com Marilene, mas
ela disse que não queria mais dar declarações sobre o caso. Antônio
Carlos não foi localizado.
Já Fábio morava sozinho, num prédio no Méier, na Zona Norte. Apesar da
independência, foi na casa da mãe e do padastro, no Recreio dos
Bandeirantes, na Zona Oeste, que buscou abrigo. Lá, Fabio acabou preso,
no último domingo, após ter a prisão decretada pela Justiça.
Já Caio foi capturado bem longe de casa, no meio de uma fuga para a casa
do tio em Ipu, no Ceará. Convencido pela namorada, o jovem diz ter
resolvido interromper a tentativa de escapar, e parou em Feira de
Santana, na Bahia, onde foi preso pela polícia do Rio na madrugada da
última quarta-feira.
O EXTRA não conseguiu localizar os pais de Fábio.
Flagrados
Fábio e Caio foram identificados, em imagens feitas pela própria
imprensa, como responsáveis por soltar o rojão que acabou matando o
cinegrafista Santiago Andrade na manifestação do dia 6, na Central do
Brasil.
Os dois jovens admitiram se conhecer de outras manifestações. Fábio foi o
primeiro a ser capturado. Seu advogado, Jorge Tadeu Nunes, foi quem
entregou à polícia os dados de Caio, que agora ele também defende.
Em depoimento na noite da última quinta-feira, quando chegou a Gericinó,
Caio acusou Fábio de ter sido responsável por acender o rojão. Jonas
Tadeu disse que o cliente foi pressionado a prestar o depoimento, e
pedirá que o inquérito seja anulado. Caio foi ouvido sem a presença do
advogado, o que também foi alvo de reclamação de Jonas.
O delegado Maurício Luciano, da 17ª DP (São Cristóvão), nega que tenha
havido qualquer irregularidade no depoimento. “Talvez ele quisesse falar
longe do advogado”, disse, em entrevista à TV Globo.
Na sexta-feira, o delegado encerrou o inquérito do caso e entregou o
documento ao MP. A dupla foi indiciada por homicídio doloso (quando há
intenção de matar).
/extra.globo.com/casos
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