segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A liberdade das ruas acabou na solitária: Caio só chora, dizendo-se arrependido, e Fábio prefere o silêncio

Caio (à esquerda) e Fábio (direita): presos acusados de causar morte de cinegrafista

Caio (à esquerda) e Fábio (direita): presos acusados de causar morte de cinegrafista
Carolina Heringer

Quando começaram a participar das manifestações, em junho do ano passado, Caio Silva de Souza e Fábio Raposo Barbosa, ambos de 22 anos, não imaginavam que poderiam terminar atrás das grades, em celas de cerca de seis metros quadrados, respondendo a crimes pelos quais podem pegar mais de 30 anos de prisão. Enquanto o primeiro tenta manter a calma diante das acusações, agarrando-se a uma Bíblia, o outro permanece calado, sem interesse em manter qualquer interação com agentes penitenciários.
A dupla está presa, desde a semana passada, acusada pela morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, em protesto na Central do Brasil. Caio está sozinho numa cela na galeria 1 da Cadeia Pública José Frederico Matos. Desde que chegou na unidade, conversa com os inspetores da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), para os quais pediu uma Bíblia. Foi por meio dos guardas que ele soube o tempo que poderia ficar preso. Desesperado, chorou e disse estar com vergonha do pai, e preocupado com a mãe, que diz sustentar. Já Fábio pouco fala. Ele está numa cela, na galeria G do Bandeira Stampa. Isolá-los foi uma estratégia para mantê-los afastados dos outros presos, evitando que os recém-chegados sejam influenciados por eles.
Fotógrafo do jornal O Globo flagrou o momento em que Santiago foi atingido
Fotógrafo do jornal O Globo flagrou o momento em que Santiago foi atingido Foto: / Agência O Globo
Ambos só receberam, até agora, visitas de advogados que foram até o Complexo Penitenciário de Gericinó. Alguns, eles até dispensaram e não quiserem ouvir. A dupla só poderá receber visitas de familiares e amigos em cerca de 10 dias. Até lá, aguardam decisão da Justiça sobre a conversão da prisão temporária em preventiva (que pode durar até o término do processo), o que foi pedido na última sexta-feira pelo delegado Maurício Luciano de Almeida.
Em suas conversas com agentes, Caio se diz ainda arrependido do que fez. Ele relatou que gostaria de pedir desculpas à família do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, e também para seus próprios parentes.
Sustentando a mãe
Caio trabalhava no Hospital estadual Rocha Faria, em Campo Grande, como auxiliar operacional. Com o salário, sustentava a mãe, Marilene Mendonça Silva de Souza, desempregada. O jovem relatou aos agentes penitenciários que quem o ajudou a arrumar o emprego foi o pai, que também trabalhava no local, mas como gesseiro. Caio morava com o pai, Antônio Carlos de Souza, em Nilópolis, mesmo município da Baixada Fluminense no qual vive a mãe.
Santiago Andrade tinha 49 anos, e trabalhava há quase 10 na Band
Santiago Andrade tinha 49 anos, e trabalhava há quase 10 na Band Foto: / Divulgação TV Bandeirantes
Na sexta-feira, o EXTRA conseguiu falar pelo telefone com Marilene, mas ela disse que não queria mais dar declarações sobre o caso. Antônio Carlos não foi localizado.
Já Fábio morava sozinho, num prédio no Méier, na Zona Norte. Apesar da independência, foi na casa da mãe e do padastro, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, que buscou abrigo. Lá, Fabio acabou preso, no último domingo, após ter a prisão decretada pela Justiça.
Já Caio foi capturado bem longe de casa, no meio de uma fuga para a casa do tio em Ipu, no Ceará. Convencido pela namorada, o jovem diz ter resolvido interromper a tentativa de escapar, e parou em Feira de Santana, na Bahia, onde foi preso pela polícia do Rio na madrugada da última quarta-feira.
O EXTRA não conseguiu localizar os pais de Fábio.

Flagrados

Fábio e Caio foram identificados, em imagens feitas pela própria imprensa, como responsáveis por soltar o rojão que acabou matando o cinegrafista Santiago Andrade na manifestação do dia 6, na Central do Brasil.
Os dois jovens admitiram se conhecer de outras manifestações. Fábio foi o primeiro a ser capturado. Seu advogado, Jorge Tadeu Nunes, foi quem entregou à polícia os dados de Caio, que agora ele também defende.
Em depoimento na noite da última quinta-feira, quando chegou a Gericinó, Caio acusou Fábio de ter sido responsável por acender o rojão. Jonas Tadeu disse que o cliente foi pressionado a prestar o depoimento, e pedirá que o inquérito seja anulado. Caio foi ouvido sem a presença do advogado, o que também foi alvo de reclamação de Jonas.
O delegado Maurício Luciano, da 17ª DP (São Cristóvão), nega que tenha havido qualquer irregularidade no depoimento. “Talvez ele quisesse falar longe do advogado”, disse, em entrevista à TV Globo.
Na sexta-feira, o delegado encerrou o inquérito do caso e entregou o documento ao MP. A dupla foi indiciada por homicídio doloso (quando há intenção de matar).


/extra.globo.com/casos

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