Ex-jogador, que superou o câncer quando ainda atuava pelo Santos, vive seu auge como treinador pelo Penapolense; familiares e ex-colegas lembram tempos difíceis
Morumbi, na quarta-feira (Foto: Mauro Horita)
Narciso foi diagnosticado com leucemia em janeiro de 2000, após exames de rotina durante a pré-temporada do Peixe, em Atibaia, terem detectado uma anemia. Ele foi imediatamente afastado do futebol. E iniciou uma batalha pela vida.
Agora, 14 anos depois, sonha com uma vaga na final do Paulistão, com o modesto Penapolense.
- Depois de tudo que eu passei, fazer coisas inéditas para o clube e para a minha carreira é maravilhoso. É a primeira vez que comando uma equipe profissional em São Paulo, e conseguir chegar na semifinal é muito importante para mim. Mas não para por aí, queremos mais. Chegamos até aqui e temos condição de ir além, queremos passar pelo Santos na Vila - diz o treinador, que tem larga experiência em equipes de base (inclusive do próprio Peixe) e fez 4 a 1 no Alvinegro com a Penapolense na primeira fase, em jogo no interior.
Rodrigão, atacante com quem ele convivia bastante nas concentrações santistas, se recorda do choque que o elenco levou quando recebeu a notícia:
- Estávamos notando uma diferença nele nos treinamentos mesmo. Ele sempre foi um atleta-cavalo, no bom sentido, de muito vigor, mas naquele momento não estava rendendo o que podia render. Quando os exames de rotina apontaram a doença, todos ficaram muitos chateados. Eu fui pesquisar sobre a doença e fiquei torcendo muita pela recuperação.
Com a doação das irmãs Nilda e Normélia, em maio de 2000, Narciso foi submetido ao transplante de medula, realizado no Hospital das Clínicas de Curitiba, reagindo muito bem aos tratamentos. O filho Richard, hoje com 17 anos, mas na época uma criança, se enche de orgulho ao falar sobre a volta por cima de seu pai, que ainda voltaria a jogar pelo clube praiano em 2003, se aposentando no ano seguinte por conta do desgaste físico.
- Eu era muito pequeno quando aconteceu a doença, mas estranhei muito a mudança de cidade e não poder ver meu pai (por conta do tratamento). Acho que enquanto ele esteve no hospital só o vi uma vez, e lembro até hoje. Meu pai sempre teve cabelo, era forte, e naquela vez estava fraco, careca... Até perguntei: “Mãe, esse é meu pai?”. Vejo que a luta foi muito difícil. A mãe foi guerreira do lado dele, e ele também. Nos unimos e dissemos que, juntos, iríamos vencer essa batalha. E Deus nos abençoou. Cada jogo, cada clube que ele trabalha, os títulos nos orgulha - diz Richard, com emoção.
Alvo de orações, solidariedade e positividade por onde passava pelo Brasil, o jogador se abriu mais às relações interpessoais, segundo pessoas próximas, ficando ainda mais receptivo e simpático. Fisicamente, com organismo debilitado, sofreu no início da recuperação com gripes adquiridas com facilidade, o que já superou. Mas os olhos e a pele, constantemente ressecadas, ganharam a proteção dos inseparáveis óculos escuros e de filtros solares. Sequelas ínfimas para quem se assustou ao ouvir a palavra "câncer" nos primeiros diagnósticos.
Aos 40 anos e com vasta experiência em categorias de base - de Santos, Corinthians e Palmeiras-, tendo acumulado um título de Copa São Paulo pelo Timão, o técnico chega à apenas a sua terceira aventura como comandante de um time profissional. Antes de assumir o time de Penápolis, passou por Sergipe (SE) e Operário (MT), sem nenhum destaque.
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