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Dentro da sala de aula, mestres e estudantes esquecem o respeito mútuo, o
que vem gerando casos de violência na Capital e no Interior (Foto:
Rodrigo Carvalho/Diário do Nordeste)
A violência dentro das escolas no Ceará tem gerado reações adversas de
intensa agressividade tanto por parte dos estudantes quanto de
professores. Um dos registros ocorreu, ontem, em um colégio do Município
de Sobral. Um vídeo feito pelo celular de um estudante da Escola
Municipal Netinha Castelo mostrou o momento em que uma professora puxou
um aluno do 7º ano pela orelha e o obrigou a sentar.
Uma cópia do material foi entregue anonimamente na sede do Diário do
Nordeste em Sobral, com uma carta informando que o caso havia ocorrido
na última quarta-feira, dia 17 de outubro. O material, de dois minutos,
levantou, mais uma vez, a discussão sobre a relação entre alunos e
professores nas escolas.
Conforme o vice-presidente do Sindicato dos Professores do Estado do
Ceará (Apeoc), Reginaldo Pinheiro, essa realidade acontece tanto na rede
municipal de ensino quanto na rede estadual. Segundo ele, a quantidade
de licenças relacionadas a problemas de saúde motivadas por depressão e
síndrome do pânico devido a conflitos nas escolas é crescente. "Acho que
é uma realidade complexa que envolve a própria desvalorização da
carreira, a falta de estrutura, baixos salários e o processo de
violência", explica.
O psicólogo e mestre em Educação, Marco Aurélio de Patrício Ribeiro,
afirma que, sempre que acontece uma ato de violência, ocorre uma
desorganização psíquica. "Quando você expõe uma pessoa durante um longo
período a uma situação de estresse, ela entra em estágio de
desorganização mental. Isso acontece muito com os professores", diz.
De acordo com Marco Aurélio, muito professores adoecem da síndrome de
bournout. "Por conta dessa síndrome desaparece a motivação, a vontade de
trabalhar, de ir para a escola e a vontade de viver", Contudo, segundo o
especialista, alguns professores não se reconhecem como doentes e
acabam cometendo algum ato de violência.
Sobral
Outro fato ligado à relação dentro da sala de aula ocorreu com o
professor de português de uma escola da rede estadual de ensino, na
cidade de Fortaleza, José Carlos (nome fictício), que há cerca de 25
anos exerce o magistério. Durante o ano de 2010, uma ameaça de morte
feita por um grupo de alunos quase o fez desistir da profissão.
Conforme o professor, no início, os estudantes apenas reclamavam dos
exercícios que estariam muito complicados. Em seguida, as ameaças
passaram a ser verbais, até o dia em que o grupo chegou ao ponto de
planejar a sua morte.
"Fui alertado por alguns estudantes que gostavam de mim. Eles me
contaram que os alunos iriam forjar um assalto na porta da escola
seguido de morte. Fiquei muito assustado e, durante um ano, estive de
licença médica devido à síndrome do pânico. Hoje, voltei a dar aulas em
outra escola, mas nunca consegui esquecer dos terríveis momentos",
revela o professor.
Dados divulgados, no início do ano, pelo Instituto de Previdência do
Município (IPM), revelam que, em Fortaleza, os professores da rede
pública lideram os pedidos de licença médica e de transferência de
função.
Em 2011, o órgão concedeu 10.561 licenças médicas. Para os professores,
foram concedidas 4.921 licenças, além de um total de 591 readaptações.
A coordenadora da Junta Médica do IPM, Auxiliadora Gadelha, admite que
os principais motivos de afastamento são os problemas vocais,
psicológicos e ortopédicos. Entretanto, a depressão e a síndrome do
pânico aparecem com maior frequência.
Agressões
"Os problemas mais comuns entre os docentes são os psicológico. Os
professores, muitas vezes, são obrigados a conviver com crianças e
adolescentes usando e vendendo drogas, e estudantes altamente
agressivos.
Além disso, o profissional faz a faculdade, o concurso público e, quando
chega na escola cheio de sonhos e esperança, se depara com uma
realidade precária. Esses são os principais fatores da depressão e da
síndrome do pânico entre os mestres", diz a médica do IPM.
Em relação ao caso em que a professora de uma escola estadual de Sobral
agrediu fisicamente um aluno, o Secretário de Educação daquele
município, Julio César Alexandre da Costa, disse só ter ficado sabendo
da situação na manhã de ontem, após a divulgação do vídeo. Ele afirmou
que está apurando o problema, junto aos envolvidos, e garante que
pretende tomar providências necessárias.
Fonte: Diário do Nordeste
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