segunda-feira, 6 de maio de 2013

Falta de profissionais faz empresário 'suar a camisa' para contratar


Atualizado em 06/05/2013 10h35

Dono de restaurante de Curitiba tenta preeencher vagas há um ano.
Economista diz que mão-de-obra simples é cada vez mais valorizada.

Bibiana Dionísio Do G1 PR

Edson Luis Campagnolo tem um restaurante, em Curitiba, e há um ano tenta preencher duas vagas (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)Edson Luis Campagnolo tem um restaurante, em Curitiba,
e há um ano tenta preencher duas vagas
(Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
Com o mercado de trabalho brasileiro aquecido, começa a faltar profissionais para as funções consideradas mais simples, contudo, de extrema importância. Especialmente, para os setores de construção civil e serviço. Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 5,7% da população economicamente ativa estavam desempregados em março deste ano. O percentual é o menor registrado no país, para o mês, desde 2002, quando a pesquisa mensal de emprego foi realizada pela primeira vez. Na Região Metropolitana de Curitiba, o índice é ainda menor: 3,8%.
Esta boa taxa de ocupação reflete na área gastronômica. No ramo há cinco anos, Edson Luis Campagnolo, de 47 anos,  tem dificuldade para contratar garçom. Ele tem um restaurante no bairro Mercês, em Curitiba, e há um ano tenta preencher duas vagas.
“Não tem gente mesmo, e o pessoal que tem para trabalhar para a gente vem de longe, de Rio Branco do Sul, de Almirante Tamandaré, porque aqui na cidade não tem gente para trabalhar”, contou. O empresário já recorreu a instituições como Agência do Trabalho e Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) para recrutar profissional, porém, nem mesmo nestes locais especializados em intermediação de mão-de-obra há candidatos.

Campagnolo considera que a dinâmica de mercado provocou uma verdadeira mudança de comportamento. “Antes era o funcionário que tinha que se virar para conseguir trabalho, agora o empresário tem que se adaptar para conseguir contratar”, disse.

Esta adaptação ocorre, por exemplo, na hora de definir o horário de expediente. Como muitos funcionários são da Região Metropolitana de Curitiba, Campagnolo fecha o restaurante à meia-noite. “O último ônibus é 0h30, depois só tem 2h30, então, a gente funciona até meia- noite, em virtude deste problema. A gente encerra para o pessoal poder pegar o ônibus”, detalhou.

E para manter os funcionários, a opção também é flexibilizar o horário. Três colaboradores de Campagnolo têm dois empregos. A jornada dupla acaba, algumas vezes, provocando atrasos. Então, o empresário estipulou o horário de entrada de dois deles uma hora mais tarde.
Paulo César é empresário e relata dificuldade para contratar funcionários em Ponta Grossa (Foto: Arquivo pessoal)Paulo César é empresário e relata dificuldade para
contratar funcionários em Ponta Grossa
(Foto: Arquivo pessoal)
Situação semelhante é vivida periodicamente por Paulo César Andrade, de 38 anos. Há oito anos, ele é dono de uma pequena construtora, em Ponta Grossa, a 115 quilômetros de Curitiba. Sem precisar pensar duas vezes, ele lista os profissionais mais escassos na cidade, pelo menos, no segmento da construção civil. “Pedreiro, carpinteiro, armador e, às vezes, pintor”.

Paulo constrói casas, e conta que depois do lançamento do programa “Minha Casa, Minha Vida” a seleção ficou ainda mais difícil.
“Quando a gente vai começar a obra, é o período crítico. Depois que você conclui todos os projetos e orçamentos. Enquanto a gente está planejando o projeto, a gente já vai entrando em contato com o pessoal. Tem uns que estão finalizando um serviço, então, a gente já deixa um contato prévio para voltar a negociar quando for iniciar a obra”, contou Paulo.
O empresário já precisou adiar uma obra por não conseguir montar a equipe. Neste caso, é preciso esperar. “Tem que aguardar outra equipe que esteja finalizando outro trabalho, em outra construtora, para encaixar”. Aqui, o principio básico da economia, de oferta e demanda, está ainda mais presente e eleva o custo da mão-de-obra. Paulo conta que para garantir a qualidade do trabalho, paga de 20% a 30% a mais do que o piso da categoria para conseguir o bom profissional.
Lojas, com vagas em aberto,  fixam cartazes para atrair candidatos  (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)Lojas, com vagas em aberto, fixam cartazes para atrair candidatos (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)

Profissões mais simples serão mais valorizadas
Se por um lado, os empresários suam a camisa em busca de empregados, por outro, os profissionais celebram as diversas possibilidades de emprego e a valorização salarial provocada por esta escassez de mão-de-obra. Atrelada a melhor remuneração está o reconhecimento da profissão.

O professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado destaca que a elevação do custo deste tipo de mão-de-obra mais simples é um processo irreversível e, portanto, a discrepância entre os salários ficará menor.

“O Brasil, hoje, é um dos países do mundo que tem um dos maiores diferenciais de salário entre as categorias de baixa qualificação e alta qualificação. Um engenheiro e um taxista, na Alemanha, têm um diferencial de salário muito menor do que no Brasil”, exemplificou o professor, que considera que no Brasil este movimento de equiparação já começou.
Estar próximo do pleno emprego também levanta um perigo do ponto de vista macroeconômico. Você só vai conseguir crescer, a partir de agora, com aumento de produtividade e não mais com incorporação de mão-de- obra"
Marcelo Currado, economista
A valorização destas funções vai, inclusive, atrair novos profissionais. “Vão atrair pessoas que não se imaginavam, nem pensariam ou até têm certo preconceito em relação a essas atividades. Você vai ter sim uma valorização deste tipo de serviço”, disse Curador.

E se hoje estes profissionais têm um grau de qualificação baixo, a tendência, na avaliação do professor, é de que eles se capacitem. Como o empresário terá que pagar mais pelo serviço, ele também vai exigir mais.

"É evidente que hoje ainda tem muito a coisa da experiência. Mas você já tem, dentro desta atividade da construção civil, um grau de especialização que dá diferenciação salarial bem significativa. É o caso, por exemplo, de quem trabalha com azulejo”.

Toda esta dinâmica é um sinal positivo, indica desenvolvimento e que uma parcela da população está sendo mais bem remunerada. Entretanto, também acende o sinal amarelo para os agentes políticos. “Tem que ser visto com cautela, porque este aumento de custo acaba transformando o Brasil em um país caro. A gente acaba tendo uma pressão de tendência de inflação também mais alta do que a média dos países desenvolvidos”.

De acordo com o professor, para fugir deste cenário preocupante, há uma única opção. É preciso dar condições para aumentar a produtividade das empresas. “Estar próximo do pleno emprego também levanta um perigo do ponto de vista macroeconômico. Você só vai conseguir crescer, a partir de agora, com aumento de produtividade e não mais com incorporação de mão-de- obra, já que você está no pleno emprego”.

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