sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Seis jovens escaparam de chacina na Favela da Chatuba

 

 

 

 


Herculano Barreto Filho

O acaso atravessou o caminho de outros seis jovens, que também poderiam ter sido vítimas da chacina cometida por traficantes da Favela da Chatuba, em Mesquita, na Baixada Fluminense, no sábado passado. Um corte no pé no meio do caminho, a solidariedade ao amigo ferido, uma mãe rigorosa e um bico de última hora salvaram a vida daqueles que deixaram de pegar a mata para tomar um banho de cachoeira no Parque de Gericinó. Seis amigos desses jovens não tiveram a mesma sorte e foram executados por traficantes da região.

Era sábado de manhã quando surgiu a ideia do banho de cachoeira entre os jovens do bairro Cabral, em Nilópolis.

- E aí? Vamos pra cachoeira? - propôs X., de 16 anos, a Christian de França Vieira, uma das vítimas da chacina.

- Não vai dar. A minha madrinha tá doente - respondeu Christian, que mais tarde, acabou mudando de ideia.

Um imprevisto fez com que X. desistisse do banho de cachoeira, um dos programas do grupo nos finais de semana. À tarde, cruzou com Glauber Siqueira Eugênio, também morto na chacina, mas não seguiu com o grupo porque tinha conseguido um bico como ajudante de pedreiro numa obra.

- Eu poderia ter morrido também. Nasci de novo - disse X., que costumava acompanhar as vítimas da chacina em peladas numa quadra de futsal no bairro.

No caminho à cachoeira, o grupo também convidou Y., de 13 anos.

- Vieram me chamar para ir à cachoeira, mas a minha mãe não deixou e eu fiquei em casa - afirmou.

Durante o festival de pipas, um jovem de 17 anos também foi convidado. Só não foi porque queria continuar soltando pipas. O grupo seguiu pela mata, numa caminhada de cerca de duas horas até a cachoeira. No meio do caminho, outros três jovens desistiram do banho de cachoeira por causa do ferimento de um deles. Um garoto de 16 anos, que estava de pés descalços, havia sofrido um corte no pé. Os outros dois jovens voltaram com ele, escapando de um destino trágico.

Suspeitos são detidos por policias do Bope Suspeitos são detidos por policias do Bope Foto: Gabriel de Paiva / O Globo

Ocupação

Centenas de policias do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar ocuparam na madrugada desta terça-feira a Favela da Chatuba, com o apoio de fuzileiros navais. Parte do efetivo foi levada para a comunidade dentro de quatro blindados dos fuzileiros. A ação foi desencadeada após as oito mortes cometidas por traficantes da comunidade, no último fim de semana.

Os corpos de Victor Hugo da Costa, de 17 anos; Christian de França Vieira, de 19 anos; Patrick Machado de Carvalho, de 17 anos; Josias Searles, de 16 anos; Douglas Ribeiro da Silva, de 17 anos e Glauber Figueira Eugênio, de 17 anos, foram encontrados às margens da Rodovia Presidente Dutra, no bairro Jacutinga, nesta segunda-feira. Os cadáveres foram localizados nus, sob uma lona preta. As vítimas apresentavam sinais de tortura e marcas de tiro na cabeça.

PMs vasculham mata no Parque de Gericinó PMs vasculham mata no Parque de Gericinó Foto: Cléber Júnior / Extra

Banho no parque

No sábado, os seis amigos foram tomar banho de cachoeira em uma mata que dá acesso à Chatuba. As famílias dos jovens comunicaram o sumiço à polícia neste domingo. De acordo com parentes dos jovens, eles saíram de casa por volta das 15h de sábado para assistir a um campeonato de pipas no campo de instruções de Gericinó. De lá, elas foram à cachoeira.

Os assassinatos de seis jovens moradores de Nilópolis não foram os únicos. O pastor Alexandro Lima foi assassinado a tiros de fuzil neste sábado, enquanto fazia uma caminhada próximo ao Parque de Gericinó. Já o cadete da PM José Augusto foi executado na região no mesmo dia. Nenhuma das vítimas tinha antecedentes criminais.

Os suspeitos de comandar os assassinatos são os traficantes Juninho Cagão, Bola e Ratinho, todos da Chatuba.

http://extra.globo.com/

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