segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Em dez anos, o Ceará perdeu 1.060 leitos de pediatria

 

 

 

Em dez anos, o Ceará perdeu 1.060 leitos de pediatria Com saúde não se brinca. A máxima pode parecer banal, mas carrega muita seriedade quando se parte para uma reflexão do atendimento em saúde voltado para a criança. Nos últimos dez anos, o Estado perdeu 16 hospitais, setores ou núcleos de pediatria, totalizando 1.060 leitos a menos. Hoje, no Ceará, há 965 leitos, entre públicos, privados e em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O problema, porém, não é apenas local. Médicos e outros profissionais de saúde reconhecem que o setor passa por uma crise. Os planos de saúde, por exemplo, remuneram, em média, R$ 30,00, valor considerado baixo pelos médicos. Em Fortaleza, todo dia o problema vem à tona nas emergências públicas e privadas, nas filas dos postos de saúde, na marcação de consultas. Não é raro encontrar, nessa peregrinação, mães do Interior, adolescentes sem informação, crianças com doenças graves tendo que esperar meses por atendimento especializado e filas para conseguir consulta também particular. No Ceará, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), na rede pública, existem 519 leitos pediátricos de médio e alto risco e de UTI pediátrica e neonatal do Estado em Fortaleza. Entretanto, outros 33 hospitais polo também atendem as crianças com doenças de alto e médio risco no interior. Esses hospitais, de acordo com a Assessoria de Imprensa da Sesa ou são municipais ou ligados a instituições filantrópicas e recebem, mensalmente, R$ 5,4 milhões do Governo do Estado, para que a população do interior não precise se deslocar até Fortaleza para ser atendida. Contudo, esses hospitais não suprem as necessidades da população e muitas pessoas precisam vir até as unidades de Fortaleza para conseguir atendimento especializado, como oncologia ou neurologia, por exemplo. Foi esse o destino da agricultora Marla de Sousa Andrade, de Russas. Aos três meses, a sua filha Heloá começou a ter convulsões e desmaiar sem motivo aparente. Sempre que a menina tinha crises, a mãe corria para o hospital do município, onde Heloá era medicada. Contudo, o pediatra pediu que a mãe procurasse um especialista. Nesse caso, um neurologista. Como naquela cidade não tem médico neurologista, Marla veio até o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), em Fortaleza. Após fazer vários exames e ficar três dias internada com a filha, elas saíram sem um diagnóstico e com um retorno a ser marcado. Pela falta de vagas, Heloá só conseguiu uma nova consulta para dali a um ano e seis meses. Hoje, Heloá tem um ano e nove meses e, mais uma vez, teve que se deslocar com a mãe até Fortaleza para a consulta. "Nesse tempo, ela já convulsionou umas 15 vezes e lá, só posso levá-la para tomar remédios no hospital. Eu tenho medo que aconteça alguma coisa muito séria com ela", ressalta. Leucemia A também agricultora Maria Marileide da Silva teve que sair de sua cidade natal para morar na casa de apoio da Prefeitura de Nova Olinda, em Fortaleza, quando descobriu que a filha caçula, Ana Maria, de 8 anos, tinha leucemia. Antes de procurarem atendimento no Hospital Pediátrico do Câncer, que atua em parceria com o Hospital Infantil Albert Sabin, as duas ainda tentaram o tratamento no Crato, mas não notaram melhora na menina, porque não havia aplicação de quimioterapia. Perto de terminar o tratamento, a menina já pensa em voltar à cidade natal e à sua antiga rotina. "Quero fazer tarefa e assistir os meus DVDs em casa", diz. Mesmo morando em Fortaleza, a dona-de-casa Fabiana Dias Carvalho também foi obrigada a procurar o Hospital Infantil Albert Sabin, porque o Posto de Saúde mais próximo da sua casa não faz atendimento de emergência. "Ela já teve broncopneumonia e ficou internada. Tenho medo de voltar a doença, por isso corri logo para cá", explica. Problema Nacional Essa redução na quantidade de leitos não é exclusiva dessa especialidade, nem tampouco do Ceará. O Estado, entre 2005 e 2012, passou de 16.475 leitos para 15.925, com uma perda de 550 unidades, o que representa redução de 3,3%. De acordo com um levantamento do Conselho Federal de Medicina, divulgado em setembro pelo Diário do Nordeste, a pediatria foi a segunda especialidade mais atingida com essas perdas, com uma redução de 8.979 leitos. Em primeiro lugar, está a da psiquiatria (9.297). Em segundo, a obstetrícia (5.862), seguida da cirurgia geral (5.033) e clínica geral (4.912). A falta de financiamentos e de infraestrutura é considerada pela análise como fator impactante no número de leitos disponíveis, prejudicando, assim, o trabalho médico. Falta de pediatras Segundo a conselheira do Conselho Regional de Medicina e diretora de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, Regina Portela, o número de pediatras ainda é insuficiente para atender à demanda. "Na Sociedade Cearense de Pediatria, da qual faço parte e fui presidente, são 800 médicos sócios. Destes, apenas 150 atendem em consultório com regularidade, cerca de três vezes por semana. O restante ou está aposentado ou só atende nos plantões de emergência". Para Regina Portela, os baixos valores pagos por consulta e a necessidade de o médico estar disponível 24 horas para tirar dúvidas das mães são fatores que desestimulam o ingresso dos médicos nessa especialidade. "Um dos planos de saúde paga cerca de R$ 55,00 por consulta, mas após os descontos, esse valor cai para menos de R$30,00. Um consultório é uma empresa como qualquer outra e temos gastos elevados que acabam não compensando financeiramente para muitos profissionais", explica. Segundo a diretora comercial da Cooperativa dos Pediatras do Ceará (Cooped), Joana Maciel, a entidade agrega 592 médicos que trabalham em regime de plantão em Fortaleza e Maracanaú. "Todos os anos temos um acréscimo de cerca de 5% no número de cooperados, pelos profissionais que terminam a residência em pediatria", afirma. A tabela de pagamento da Cooped estipula um valor de R$897,48 para 12 horas de plantão na semana. Nos fins de semana, feriados e no período noturno, o valor é de R$ 1.218,74. Por conta desse valor mais alto, pago pelos plantões, no consultório de Regina Portela, o número de pacientes atendidos sofreu um acréscimo de 50%. "Há dois anos, eu atendia uma média de 12 pacientes, hoje são 18 e estou no meu limite. Costumo brincar que as mães devem tratar muito bem os pediatras dos seus filhos, porque não é mais tão fácil achar um", diz. Como representante da Sociedade Brasileira de Pediatria, Regina Portela admite que os baixos valores não são uma realidade só do Ceará, mas de todo o Brasil. "Nós queremos que os planos de saúde nos paguem R$80,00 por consulta normal e R$120,00 nas consultas de puericultura, em que o médico tem que atender a 17 ítens no exame", esclarece. A partir desse mês essa reivindicação foi parcialmente atendida e um dos planos de saúde passou a pagar R$100,0 por esse tipo de consulta, em que os bebês, durante os doze primeiros meses, são examinados sob vários aspectos, como o peso, a altura e o perímetro encefálico. Especialidades Na rede pública, existem seis hospitais de referência em atendimento pediátrico: Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital Geral de Fortaleza, Hospital Geral Dr. Cesar Cals, Hospital Dr. Waldemar de Alcântara, Hospital Geral de Fortaleza, Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes e Hospital Geral da Polícia Militar. O Hias é o único que só atende o público infantil e atua em diferentes especialidades. Já os Hospitais Gerais de Fortaleza, Cesar Cals, da Polícia Militar e Waldemar Alcântara atendem todo o tipo de público, inclusive o infantil. O Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes é referência em atendimento a adultos e crianças em cardiologia e pneumologia. Planos de saúde têm mais leitos que a rede pública Nem sempre ter um plano de saúde significa direito a mais conforto ou a um tempo de espera menor por consulta. No caso do atendimento pediátrico, sobram reclamações, principalmente na fila de espera nas emergências e também por uma consulta de primeira vez que, dependendo do profissional, pode demorar mais de dois meses. A auxiliar administrativa Ligiana Oliveira, por exemplo, preferiu trocar de plano para conseguir atendimento para o filho Lucas Heitor, de dois anos. A pediatra que o atende só o encaminhava para o Hospital Luis França e ela resolveu fazer o plano do próprio hospital. "Eu sempre vinha pra cá, mesmo tendo outro plano e preferi gastar menos com esse plano do Hospital. Por mais que demore um pouco, a gente é sempre atendido e eu gosto muito dessa médica", diz. Na rede privada de saúde, existem 650 leitos, entre os de médio e alto risco e UTIs pediátricas e neonatais. São 131 a mais que na rede pública. De acordo com o presidente da Associação dos Hospitais do Ceará, Aramicy Pinto, entre leitos de hospitais públicos e privados, foram fechados 1.060 leitos. O principal motivo para essa redução foi o financeiro. "Estes hospitais fecharam por dificuldades de gestão, haja vista a alta carga tributária do setor e os valores remuneratórios para os atendimentos estarem muito abaixo do custo. A razão foi o congelamento da tabela do SUS pro 12 anos", explica. A pediatria, assim como a psiquiatria, foi a principal atingida com esse congelamento. "As especialidades em pediatria e psiquiatria não têm sido prioritárias para os médicos recém-formados, face ao baixo valor da consulta, tanto no SUS como nos convênios e dos procedimentos clínicos", ressalta. Os planos da Unimed e do Hap Vida, por exemplo, contam com clínicas de atendimento exclusivamente pediátrico. Na Unimed, existe o Centro Pediátrico, que concentra os atendimentos de urgência voltados para esse público, dos clientes Multiplan e Uniplano, que antes eram realizados no Hospital Regional Unimed (HRU). Essa unidade, localizada no Joaquim Távora, atende crianças de 0 a 16 anos e oferece atendimento com resolubilidade nas primeiras 12 horas. Caso o paciente necessite de um período maior de observação, ele é encaminhado para uma unidade hospitalar da rede credenciada, transportado por UTI móvel da Unimed Urgente. São 8 leitos de UTI pediátrica e 10 de UTI Neonatal, todos localizados no Hospital Regional do convênio. Na Unimed, são 528 pediatras e neonatologistas cooperados O plano de saúde Hap Vida mantém, em todo o Estado, um total de 190 leitos destinados às crianças. Em Fortaleza, o Hospital Antônio Prudente conta com UTI Pediátrica, Neonatal, Internação pediátrica, enfermaria pediátrica, maternidade, emergência pediátrica, berçário e Espaço Mãe Canguru. No Hospital Ana Lima, em Maracanaú, há internação e emergência exclusiva para crianças. Esse convênio ainda tem cerca de 150 pediatras trabalhando em sua rede própria. Também foram inauguradas neste ano a Hapclínica, na Padre Antônio Tomás, voltada somente para o atendimento pediátrico. Planos de saúde têm mais leitos que a rede pública Nem sempre ter um plano de saúde significa direito a mais conforto ou a um tempo de espera menor por consulta. No caso do atendimento pediátrico, sobram reclamações, principalmente na fila de espera nas emergências e também por uma consulta de primeira vez que, dependendo do profissional, pode demorar mais de dois meses. A auxiliar administrativa Ligiana Oliveira, por exemplo, preferiu trocar de plano para conseguir atendimento para o filho Lucas Heitor, de dois anos. A pediatra que o atende só o encaminhava para o Hospital Luis França e ela resolveu fazer o plano do próprio hospital. "Eu sempre vinha pra cá, mesmo tendo outro plano e preferi gastar menos com esse plano do Hospital. Por mais que demore um pouco, a gente é sempre atendido e eu gosto muito dessa médica", diz. Na rede privada de saúde, existem 650 leitos, entre os de médio e alto risco e UTIs pediátricas e neonatais. São 131 a mais que na rede pública. De acordo com o presidente da Associação dos Hospitais do Ceará, Aramicy Pinto, entre leitos de hospitais públicos e privados, foram fechados 1.060 leitos. O principal motivo para essa redução foi o financeiro. "Estes hospitais fecharam por dificuldades de gestão, haja vista a alta carga tributária do setor e os valores remuneratórios para os atendimentos estarem muito abaixo do custo. A razão foi o congelamento da tabela do SUS pro 12 anos", explica. A pediatria, assim como a psiquiatria, foi a principal atingida com esse congelamento. "As especialidades em pediatria e psiquiatria não têm sido prioritárias para os médicos recém-formados, face ao baixo valor da consulta, tanto no SUS como nos convênios e dos procedimentos clínicos", ressalta. Os planos da Unimed e do Hap Vida, por exemplo, contam com clínicas de atendimento exclusivamente pediátrico. Na Unimed, existe o Centro Pediátrico, que concentra os atendimentos de urgência voltados para esse público, dos clientes Multiplan e Uniplano, que antes eram realizados no Hospital Regional Unimed (HRU). Essa unidade, localizada no Joaquim Távora, atende crianças de 0 a 16 anos e oferece atendimento com resolubilidade nas primeiras 12 horas. Caso o paciente necessite de um período maior de observação, ele é encaminhado para uma unidade hospitalar da rede credenciada, transportado por UTI móvel da Unimed Urgente. São 8 leitos de UTI pediátrica e 10 de UTI Neonatal, todos localizados no Hospital Regional do convênio. Na Unimed, são 528 pediatras e neonatologistas cooperados O plano de saúde Hap Vida mantém, em todo o Estado, um total de 190 leitos destinados às crianças. Em Fortaleza, o Hospital Antônio Prudente conta com UTI Pediátrica, Neonatal, Internação pediátrica, enfermaria pediátrica, maternidade, emergência pediátrica, berçário e Espaço Mãe Canguru. No Hospital Ana Lima, em Maracanaú, há internação e emergência exclusiva para crianças. Esse convênio ainda tem cerca de 150 pediatras trabalhando em sua rede própria. Também foram inauguradas neste ano a Hapclínica, na Padre Antônio Tomás, voltada somente para o atendimento pediátrico. Fonte: Dn

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