Yaçanã Neponucena
Em alguns Municípios, como Juazeiro e Barbalha, as agressões aumentaram.
Por isso, o Conselho pretende ampliar a mobilização da sociedade.
(Foto: Yaçanã Neponucena)
A partir do próximo dia 10 até o mês de dezembro, o Conselho da Mulher
Cratense irá iniciar uma série de atividades em prol do combate à
violência contra a mulher na região do Cariri. No período, haverá desde
palestras sobre o direito à vida e implementação da Lei Maria da Penha, a
concentrações e passeatas pelas ruas da cidade, debates de casos
ocorridos e esclarecimentos da atuação dos órgãos de defesa da mulher.
A expectativa é que a ação envolva a sociedade na causa e cobre do
Estado a efetivação das políticas públicas de enfrentamento a este tipo
de agressão.
Apenas este ano, em todo o Cariri, 17 mulheres foram assassinadas. Três
destes crimes ocorreram no Crato, entretanto, nenhuma delas residia na
cidade. Os dados são do Conselho da Mulher Cratense, que aponta o
município de Juazeiro do Norte como sendo o mais violento. A contagem já
supera os índices de 2011, quando foram registrados oito homicídios.
Nos últimos dez anos, quando aconteceu uma série de assassinatos de
mulheres nas cidades de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, os órgãos
de defesa da mulher, em parceria com a justiça, deram início a uma ampla
campanha para prevenir a violência e tentar identificar e punir os
agressores. Dos sete casos do massacre, até agora, quatro ainda não
foram à julgamento.
A particularidade do que acontece no Cariri já é motivo de estudos por
parte de alunos de escolas do Ensino Médio em Fortaleza. Para começar
cedo a formar uma consciência sobre a violência doméstica, em que a
mulher ainda é o principal alvo, alunos do 1º ano do Colégio Ari de Sá
(3 tarde), na Capital, vêm se mobilizando para apresentar luzes novas
sobre o tema. A estudante Raquel Copriano Melo diz que, tendo como base o
site Miséria, descobriu-se que o assassinato de mulheres este ano
cresceu em Juazeiro do Norte 33% em relação ao ano passado e situação
pior acontece em Barbalha onde, a menos de dois meses para terminar
2012, já houve um aumento de 50% em termos de homicídios. Os estudantes
pretendem não apenas revelar o que ainda é uma mancha grave da sociedade
cearense, mas levar o espírito do respeito e da pacificação humana para
além dos muros da escola.
Desde 2002, 218 mulheres morreram vítimas da violência. Alguns crimes
tiveram requintes de crueldade. Os índices são alarmantes. De acordo com
as pesquisas da Secretaria Especial de Políticas Para as Mulheres,
nacionalmente, a região lidera as estatísticas, ficando atrás apenas das
cidades do Rio de Janeiro e Recife, respectivamente.
O órgão indica que no País, a cada 15 segundos, uma mulher é espancada
por um homem. Geralmente os agressores são os namorados, maridos,
parceiros ou ex-amores. Para tentar minimizar os aspectos desta triste
realidade, no âmbito regional, as instituições tentam vencer as
barreiras provocadas pela falta de infraestrutura unindo forças por meio
de parcerias.
Acolhimento
As ações de acolhimento, encaminhamento e acompanhamento das vítimas são
feitas com os apoios do Coletivo Regional de Mulheres Trabalhadoras
Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estados do Ceará
(Fetraece), Casa Lilás, Defensoria Pública, Delegacias da Mulher,
Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e
Conselhos da Mulher, que promovem o ativismo em favor da causa.
Maria da Penha
No Cariri, o desconhecimento da Lei número 11.340/06, mais conhecida
como Maria da Penha, que criou mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra as mulheres, ainda é um dos empecilhos para a
transformação do atual cenário.
Segundo uma das fundadoras do Conselho da Mulher Cratense, Francisca
Alves da Silva, muito ainda pode ser feito para reprimir os agressores.
Para ela, a capacidade operacional da Lei não está sendo utilizada
plenamente. "Elas só procuram defesa quando já não suportam mais
conviver com os agressores. É preciso que busquem ajuda logo nos
primeiros indícios da violência. Geralmente, as mulheres são muito
magoadas, principalmente por dentro", revela.
No Crato, este ano, foi realizado um julgamento de crime contra à
mulher, que resultou em 15 anos de reclusão para o acusado. Porém, o réu
já havia cumprido um terço da pena e saiu em liberdade. Outros dois
estão marcados, um deverá acontecer hoje, às 8 horas, no Fórum
Desembargador Hermes Parahyba, e o seguinte no dia 17 de dezembro, no
mesmo local.
Condenação
A expectativa dos órgãos de defesa da mulher é que os culpados sejam
condenados e paguem pelos seus atos. Apesar dos altos índices da
violência de gênero, a região do Cariri é carente de mecanismos de
combate a estas práticas. Não há uma Casa Abrigo, que possa dar suporte
as que abandonam seus lares, investimentos em acolhimento das mulheres
que sofrem agressões, funcionamento 24 horas das Delegacias da Mulher em
Juazeiro do Norte e Crato e nem um Centro de Referência Regional da
Mulher. Sem esses dispositivos, muitas vítimas temem denunciar e, ainda,
registrar queixas dos seus agressores.
Contra o gênero, os tipos mais comuns são as agressões física, sexual,
patrimonial, além da psicológica. Quebrar o silêncio e procurar auxílio
ainda é a melhor saída apontada pelas entidades de proteção à mulher,
aconselham que elas devem ter coragem. Para as que desejam denunciar as
ofensas ou qualquer tipo de dano, o Conselho da Mulher dispõe de um
Disque Denúncia de Violência Contra a Mulher. O número pode ser acionado
durante as 24 horas do dia.
Casos
17 mulheres foram vítimas de violência no Cariri, em 2012. Três destes
crimes ocorreram no Crato, entretanto, nenhuma delas residia na cidade
Mais informações:
Conselho da Mulher Cratense
Endereço: Rua José Carvalho,153 Centro- Crato
Região do Cariri
Telefone: (88) 8813.5021
Fonte: Diário do Nordeste
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