Atualizado em
06/03/2013 20h54
Goleiro afirmou que Macarrão contratou Bola para matar mãe de seu filho.
Pela 1ª vez, jogador admitiu morte de Eliza Samudio e falou sobre o plano.
(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)
Foi a primeira vez que Bruno implicou Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, na morte de Eliza. Até agora, o policial era citado como "Neném" por Jorge Luiz Rosa, que disse à polícia ter presenciado a execução da jovem.
O advogado perguntou a Bruno se achava que, quando Macarrão se referiu a Neném, queria dizer Marcos Aparecido dos Santos. O goleiro respondeu que sim e falou que ficou sabendo por meio da imprensa que Bola tinha vários apelidos, como "Neném" e "Paulista". Ele disse que tem medo do policial.
Bruno baixa a cabeça e chora durante interrogatório
no seu júri popular (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
no seu júri popular (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
terceiro dia de júri
Goleiro ficou sentado de frente para a juíza durante
o seu interrogatório (Foto: Renata Caldeira /TJMG)
Macarrão, em sua confissão à Justiça em novembro, disse não saber quem seria o executor de Eliza Samudio.
O amigo de Bruno afirmou no júri popular em que foi condenado a 15 anos
de prisão que deixou a modelo em uma rua escura e que ela entrou em
outro carro.o seu interrogatório (Foto: Renata Caldeira /TJMG)
Bruno admitiu pela primeira vez desde o início do caso que a modelo com quem teve um filho foi assassinada. O jogador contou que Macarrão e o primo Jorge Luiz Rosa, menor de idade na época, deixaram o sítio com Eliza e Bruninho, voltando mais tarde apenas com o bebê.
"Perguntei para eles: 'poxa, cadê Eliza? Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'", afirmou Bruno. "Neste momento, Macarrão falou assim: 'ó, eu resolvi o problema, o problema que tanto te atormentava'".
Ele disse que na noite do crime viajou para o Rio de Janeiro e que, no dia seguinte, foi a uma festa do jogador Vagner Love e também a outro evento, em Angra dos Reis. Dois dias depois do assassinato, ele participou do jogo do seu time e depois de mais uma festa com os jogadores, em uma casa alugada.
Bruno falou que não denunciou Macarrão pela morte de Eliza por "medo de acontecer alguma coisa" com as filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo". Questionado pela juíza Marixa Fabiane Rodrigues de quem ele tinha medo, o atleta afirmou que era do próprio Macarrão e de outras pessoas envolvidas no crime.
Sobre a relação com o amigo, condenado pela morte da modelo em novembro de 2012, Bruno disse que o perdoa. "Eu perdoo por tudo, mas ele vai cuidar da família dele e eu vou cuidar da minha família".
O interrogatório de Bruno teve início às 14h04 e terminou às 20h14. Bruno e a ex-mulher Dayanne Rodrigues enfrentam júri popular por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.
Ele disse que Dayanne não sabia que Eliza Samudio havia sido assassinada e que, "apesar de assustada com tudo o que estava acontecendo", em momento algum soube da situação. "Eu falei para ela só: 'fica com a criança para mim'. Ela perguntou o que eu estava acontecendo, mas eu quis protegê-la", disse o goleiro.
Bruno pediu para contar à sua maneira a história, iniciando o relato. Ele disse que conheceu Eliza em uma festa na casa de um amigo, em 2009, que teve relações sexuais com ela apenas uma vez, e que a modelo "tinha se envolvido com outras pessoas naquela noite".
O goleiro afirmou que, durante a gravidez, teve várias discussões com Eliza. "Ela realmente cobrava de mim que eu arcasse com as despesas. E eu ajudei sim, só que ela queria que eu ajudasse mais. Só que eu não tinha feito exame de DNA". O réu disse que, depois de algum tempo, Eliza "contratou uma advogada", que passou a conversar com ele.
"E eu conheci a criança, após seu nascimento", disse Bruno. "Eu fiquei feliz pelo fato de a criança ter nascido saudável [...] eu sempre quis ter uma criança. O Bruninho ali, eu fiquei muito feliz com a presença dele", completou.
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.
Ilustração mostra os jurados acompanhando a fala
de Bruno no tribunal em MG (Foto: Léo Aragão/G1)
de Bruno no tribunal em MG (Foto: Léo Aragão/G1)
Goleiro admitiu pela primeira vez que Eliza foi morta
e culpou Macarrão (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
'Atrapalhando na transação'e culpou Macarrão (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
O goleiro disse que Eliza passou a entrar em contato com a imprensa e a falar coisas a seu respeito, desmoralizando-o. Ele falou sobre o episódio em que a modelo afirmou ao jornal "Extra" que o atleta a ameaçava e teria, em certa ocasião durante sua gravidez, a forçado a tomar abortivos. Em dezembro de 2010, Bruno foi condenado no Rio de Janeiro por cárcere privado e conseguiu, depois, relaxamento da pena.
"Eu estava prestes a ser contratado por equipe fora do país, então estava atrapalhando na transação essas coisas ditas [por Eliza] na imprensa", disse Bruno. "Incomodava não só a mim mas todos que estavam a meu redor. [...] As pessoas que dependiam de mim, como família, como amigos, empresário". O goleiro disse que, a partir dessas brigas, não quis mais entrar em contato com a Eliza.
'Éramos como irmãos'
Bruno contou ao júri que, depois que parou de falar com Eliza, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, assumiu esse papel e passou a "viver mais com a Eliza". Ele disse que o amigo cuidava de suas contas e que os dois tinham uma relação forte de amizade. "Éramos como irmãos".
Com o passar do tempo, segundo o depoimento do atleta, Macarrão "começou a dominar as outras pessoas", e Ingrid Calheiros, sua noiva à época dos fatos, falou que estava perdendo liberdade dentro de sua própria casa. "Não sei se foi por ciúmes, se ele estava se achando o Bruno", disse sobre o amigo já condenado. "Ele queria tomar conta de tudo".
Bruno disse que no dia 3 de junho, "quando tudo isso começou", estava na praia fazendo as pazes com a noiva após uma briga quando Macarrão telefonou e pediu o caro para "resolver um problema. O goleiro falou que Macarrão estava com Jorge Luiz Rosa, seu primo que era adolescente à época.
'Ela estava lá machucada'
Ele contou que "não fazia ideia" do que estava acontecendo e que, no dia seguinte, Macarrão chegou no hotel onde ele estava concentrado com o Flamengo e disse que havia trocado socos e agressões no carro com Eliza porque ela ameaçou ir ao jornal "Extra". Segundo o goleiro, Macarrão não contou naquele dia, na concentração, que Eliza estava machucada.
"Chegando em casa, eu olhei para as coisas lá, a Fernanda [Castro, ex-namorada] estava na parte de baixo da casa, com o Bruninho no colo", disse Bruno, que não teria ficado surpreso com Fernanda, mas sim, de ela estar segurando Bruninho. "Eu fiquei surpreso, o que está acontecendo, perguntei. Ela disse que: 'não sei de nada, estou aqui só para ajudar'".
Bruno disse que ficaram na sala do andar debaixo da casa, além de Fernanda e Bruninho, o primo menor de idade e Macarrão. "Assim que eu cheguei, ficou aquele clima tenso, aquele clima estranho", contou Bruno. O goleiro afirmou que Macarrão falou que Eliza estava no andar de cima. "Ela estava lá machucada, com hematomas no rosto e na cabeça, mas não estava sangrando", disse ao júri o jogador.
O goleiro disse que, após Macarrão ter dito que o primo havia batido em Eliza, ele deu "uma surra" no adolescente, na frente da modelo, que teria pedido para ele parar. Bruno falou que Eliza aceitou um remédio para dor de cabeça e que, por isso, ele saiu da casa, voltando mais tarde para fazer o curativo na cabeça dela.
Ilustração mostra goleiro falando sobre a morte de
Eliza Samudio durante o júri (Foto: Léo Aragão/G1)
Eliza Samudio durante o júri (Foto: Léo Aragão/G1)
Bruno conversa com a juíza Marixa durante sua fala
no júri sobre a morte de Eliza (Foto: Léo Aragão/G1)
"Nós tivemos uma conversa entre eu, a Eliza e o Macarrão. E ela teria
feito um acordo com Macarrão de conseguir, pegar em mãos uma certa
quantia em dinheiro, no valor de R$ 50 mil. Naquele momento foi passado
para mim. Eu falei que não tinha R$ 50 mil, eu tinha R$ 30 mil", disse
Bruno.no júri sobre a morte de Eliza (Foto: Léo Aragão/G1)
Na mesma noite, segundo Bruno, ele partiram para Minas Gerais. Ele afirmou que parte do dinheiro combinado com Eliza estava no sítio "em espécie", mas que faltavam R$ 30 mil, que Macarrão deveria retirar em um banco no Rio de Janeiro. Por isso, segundo ele, a modelo permaneceu no sítio, "como uma hóspede".
De acordo com o depoimento do goleiro, Macarrão foi para o Rio de Janeiro numa segunda-feira e retornou para o sítio em Minas Gerais na quarta. "Quando ele [Macarrão] chegou, trouxe o dinheiro, me passou. Eu mesmo contei e passei para Eliza", afirmou Bruno. "Ela estava super à vontade na minha casa, como convidada", disse o atleta, contando que, depois de receber o dinheiro, a modelo não quis ir embora porque "já estava familiarizada" no sítio.
'Resolvi o problema'
Bruno disse que Eliza Samudio já estava com o dinheiro quando deixou o sítio com o filho Bruninho, na companhia de Macarrão e do primo Jorge Luiz Rosa. "Ela falou assim que ela precisava daquele dinheiro para resolver alguns problemas pessoais em São Paulo. E até então eu acreditava que seria aquilo ali", afirmou o goleiro.
Ele disse que, por volta de umas 22h, 23h, retornaram ao sítio o menor de idade e Macarrão com Bruninho. "Perguntei para eles: 'poxa, cadê Eliza? Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'", afirmou. "Neste momento, Macarrão falou assim: 'ó, eu resolvi o problema, o problema que tanto te atormentava'".
"Eu peguei o Bruninho no colo, entreguei para a Dayanne [ex-mulher], porque eu precisava perguntar pros meninos o que tinha acontecido", disse o goleiro. "Naquele momento, senti medo", afirmou Bruno. "Vou falar para a senhora, excelência, ele não falou [como ela tinha sido morta], mas o Jorge falou que o Macarrão foi até perto do Mineirão e depois foi no orelhão e conversou com uma pessoa que não saberia explicar quem seria".
Segundo Bruno, o primo Jorge afirmou que, depois, começaram a seguir uma moto e que, em uma casa em Vespasiano, entregaram Eliza para um homem chamado Neném. "E que lá a Eliza tinha..."
A juíza perguntou se o indivíduo que executou Eliza tinha o apelido de "Bola". Bruno afirmou novamente que o menor de idade chamou o homem de "Neném" e que somente o conheceu na Penitenciária Nelson Hungria, depois que ambos já estavam presos.
'O que você fez com minha a vida?'
Bruno disse que, ao ouvir os relatos do que tinha acontecido, ficou desesperado. "O que é que você fez cara, o que é que você fez com a minha vida?", contou ter dito a Macarrão. Ele afirma que, depois da conversa, entrou para a casa do sítio e que o seu outro primo, Sérgio Rosa Sales, escutou o que o menor de idade relatou.
A juíza perguntou se Macarrão, Jorge Luiz Rosa retornaram ao sítio com pertences de Eliza Samudio, entre eles, uma mala. Bruno respondeu que eles voltaram com alguns pertences e disse acreditar que a mala foi queimada naquela noite. A polícia achou uma mala vermelha queimada no sítio do goleiro durante as investigações sobre o desaparecimento da modelo.
Questionado pela juíza sobre a carta que enviou a Macarrão quando ambos estavam presos, onde Bruno fala em usar um "plano B" e pede desculpas ao amigo, o goleiro também afirmou que na carta, o plano seria Macarrão "assumir o que ele fez". Bruno disse que pediu perdão na carta por ter de pedir a Macarrão que ficasse naquele "lugar horrível" que é a cadeia.
"Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse Bruno quando a juíza perguntou se ele sabia que Eliza seria executada. "Depois dos fatos, o Macarrão me contou".
Bruno não respondeu a nenhuma pergunta formulada pela promotoria e só voltou a falar quando questionado pelo advogado Lúcio Adolfo, responsável pela sua defesa. Ele também não respondeu a questões feitas por Ércio Quaresma, defensor de Bola, ficando ausente da sala enquanto era questionado.
Bruno confirma que conheceu uma pessoa com o apelido de "Zezé", o ex-policial que é alvo de inquérito paralelo pela morte de Eliza Samudio. Ele disse que o contato foi feito por meio de Macarrão, no final de 2009, quando o Flamengo, clube no qual o goleiro atuava como titular, foi campeão brasileiro. O policial Zezé foi ao sítio de Bruno "umas duas vezes", disse o jogador.
Esse policial civil aposentado pode ser incluído na lista de envolvidos no crime. Ele teria agido junto com os amigos do jogador, segundo informou o Ministério Público de Minas Gerais em reportagem exibida no domingo (3) pelo "Fantástico".
De acordo com o MP, o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, teria se encontrado com Macarrão no motel em Contagem (MG) onde estavam Eliza e o filho. As investigações apontam uma intensa troca de telefonemas entre os dois, antes e depois da morte da jovem. A promotoria afirma que vai denunciar o policial.
"O Ministério Público tem convicção da participação do Zezé. Ele pode ser responsabilizado pelo homicídio, pelo sequestro de Eliza e de sua criança e também pela ocultação do cadáver da moça", afirmou o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro.
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
'Não precisava daquela crueldade'
Antes do início da sessão, na porta do fórum, o assistente de acusação José Arteiro disse que vai mostrar a verdade sobre a morte de Eliza. "Ele podia ter matado a Eliza com um tiro na cabeça, mas não precisava daquela crueldade toda, daquela sacanagem que fizeram com ela. Que ela pediu, que ela falou que já não aguentava mais apanhar. Mataram ela com a criança no colo e com a malinha do outro lado. O Bruno não tem saída, nós vamos mostrar a verdade".
Dayanne depõe no 2º dia
Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, disse na terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta.
No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo goleiro.
Choro de Bruno no 1º dia
No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza também chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.
O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.
Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.
No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).
Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.
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