domingo, 28 de abril de 2013

Eldorado, SP, guarda segredos quilombolas e belezas naturais


  Atualizado em 28/04/2013 07h31

Territorialmente, cidade do Vale do Ribeira é a quarta maior do estado.
Caverna do Diabo e Cachoeira do 'Meu Deus' são grandes atrações.

Mariane Rossi Do G1 Santos
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Entrada da cidade de Eldorado Paulista, no interior de São Paulo (Foto: Mariane Rossi/G1)Entrada da cidade de Eldorado Paulista, no interior de São Paulo (Foto: Mariane Rossi/G1)
A busca pelo ouro fez nascer Eldorado, cidade no interior de São Paulo. Mas o 4º maior município em área do estado guarda muito mais histórias ligadas a terra. Os descendentes de escravos ainda mantém comunidades quilombolas e os bairros rurais abrangem grande parte da população, assim como as fazendas do século passado. A natureza traz o alimento, mas também encanta os olhos dos turistas que encontram a Caverna do Diabo e a Cachoeira de Meu Deus, uma beleza esculpida há dezenas de anos pelo meio ambiente.
O antigo nome da cidade era Xiririca. Uma palavra diferente que se refere ao “xiriricar” da água, o som que a água dos ribeirões produz quando atravessa uma corredeira. A cidade surgiu no primeiro ciclo do ouro, assim como várias outras do Brasil, por volta de 1630. Os portugueses descobriram o ouro em pó nas margens do Rio Ribeira e os escravos vieram para trabalhar na exploração. Com o passar das décadas, os colonizadores começaram a descobrir o ouro em Minas Gerais e os maiores fazendeiros foram embora, abandonando muitos escravos na região, já que não compensava transportá-los. “Muitos escravos foram abandonados ou foram vendidos para fazendeiros menores. Esses escravos que ficaram aqui conseguiram fugir e se refugiram em locais afastados. Eles formaram suas comunidades que hoje são reconhecidas por lei, assim como os indígenas e os caiçaras, que são os quilombolas”, explica o professor de biologia e guia turístico Lelis Ribeiro, de 43 anos.
Morador, professor e guia turístico Lelis Ribeiro, em Eldorado, SP (Foto: Mariane Rossi/G1)Morador, professor e guia turístico Lelis Ribeiro,
em Eldorado, SP (Foto: Mariane Rossi/G1)
As comunidades quilombolas surgiram nessa época e permaneceram durante anos cultivando seu próprio alimento e tendo um estilo de vida autônomo. Atualmente, Eldorado conta com 13 comunidades quilombolas que são reconhecidas pelo governo. Eles moram em áreas distantes do centro urbano, mas tem todos os direitos dos cidadãos que vivem na cidade. Entretanto, alguns não contam nem com serviços básicos, como posto de saúde e escolas. “Eles são bastante carentes, praticam uma agricultura de subsistência, que é de pequeno porte. As áreas que eles moram são bem conservadas, em termos de natureza, porque eles não têm um sistema que agride tanto já que não fazem grandes produções agrícolas”, conta Ribeiro.
Além delas, as comunidades rurais também começaram a surgir nesta época por causa das fazendas. Por causa da zona rural, Eldorado é considerado o 4º maior município em área do estado de São Paulo, com 1712 km² de área, sendo que 70% é coberta por Mata Atlântica em bom estado de conservação. “Atualmente nós temos mais de 60 bairros rurais e três distritos, Barra do Braço, Batatal e Itapeúna”, explica o guia.
Um dos bairros rurais de Eldorado, SP (Foto: Mariane Rossi/G1)Um dos bairros rurais de Eldorado, SP
(Foto: Mariane Rossi/G1)
Após duas grandes enchentes, a cidade que ficava a cerca de 2 km do centro foi transferida para uma parte mais alta da região, doada pela fazenda Formosa. A decisão gerou muitos conflitos entre quem era contra e a favor da mudança, que acabou sendo realizada aos poucos, entre 1816 e 1834. A imagem de Nossa Senhora da Guia, que também ficava no povoado e já era considerada a padroeira do lugar, também foi levada para a nova cidade.

A emancipação de Xiririca veio em 10 de março de 1842, já que antes o povoado fazia parte de Iguape. Porém, a população não gostava do nome da cidade e, quase um século depois, ela passou a ser chamada de Eldorado Paulista. “A população não gostava do nome da cidade, achavam muito esquisito. Os jovens que saíam daqui para estudar em outras cidades eram motivo de sarro. Chegou uma época que a população quis mudar o nome e foram sugeridos vários nomes. Eldorado foi proposto por um deputado, pelo significado da palavra, que na verdade vem da palavra espanhola 'El Dorado'. O nome faz uma referência a uma terra no México, na qual existiria uma cidade toda tomada por ouro. "Ele quis fazer uma referência, porque teve um ciclo de ouro aqui. Foram quase 200 anos de exploração”, explica Ribeiro. Segundo os moradores, não houve um plebiscito e nenhum tipo de votação popular. O nome Eldorado Paulista foi oficializado e a população aprovou.
Cachoeira de Meu Deus, em Eldorado, SP (Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo)Cachoeira de Meu Deus, em Eldorado, SP
(Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo)
Belezas centenárias
A história de Eldorado nasceu das belezas naturais que a terra trouxe para o homem e que contribuíram para que o município fosse reconhecido como Estância Turística em 1º de agosto de 1995. Outras belezas, porém, foram descobertas ao poucos, como é o caso da Caverna do Diabo. Em 1896, o pesquisador e naturalista Ricardo Krone, em expedição pelo Alto Vale do Ribeira, descobriu diversas cavernas. A Gruta da Tapagem que, posteriomente ficou conhecida como “Caverna do Diabo”, é um grande destaque na região. “Temos catalogadas cerca de 40 cavernas, mas a maioria delas não está aberta para visitação. A maioria delas estão em fase de estudos e pesquisas e a gente já conseguiu conhecer. Elas são pequenas e muito frágeis. A visitação acaba destruindo muito facilmente as cavernas. A gente acha que não compensa. Não vale a pena você colocar em risco o patrimônio espeliológico. Até porque a gente ainda não estudou a fauna. Existem animais que vivem só ali, são endêmicos daquele local. Se não tiver impacto vamos abrir. Caso contrário elas não serão abertas”, garante o guia.

Apenas a Caverna do Diabo é aberta para visitação em Eldorado. Ela é uma Unidade de Conservação Estadual. O lugar conta com duas aberturas e mais de 6 km de extensão, mas apenas 600 metros abertos à visitação. A temperatura ambiente sempre fica entre 18 ou 19 graus não importa a época do ano. O visitante deve entrar no local com calçados fechados e acompanhado de um guia. “Nos anos 60, as pessoas tinham medo porque o local era escuro e atribuíam isso ao diabo”, lembra o guia. Além disso, o nome vem de uma figura desenhada na caverna que parece um diabo.

Em contrapartida, a cachoeira de Meu Deus foi descoberta recentemente. Ribeiro e outro colega, ambos que trabalhavam na Secretaria de Turismo de Eldorado, foram informados por meio de moradores de um quilombo que havia uma linda cachoeira próxima a Caverna do Diabo. “Quando chegamos lá foi uma sensação maluca. A gente não esperava aquele tipo de paisagem. Nós mesmo que demos esse nome. Nós caímos de joelhos e ficamos quase meia hora sentados admirando ela”, conta ele. No meio da conversa em frente à cachoeira, eles resolveram a chamar de Meu Deus. Como ninguém conhecia e eles seriam os primeiros a estarem divulgando o lugar, eles queriam escolher um nome que sofresse um contraponto com a Caverna do Diabo.

A Queda de Meu Deus é o ponto culminante da Trilha das Ostras, que passa também, pelo menos, por outras nove cachoeiras. A Cachoeira de Meu Deus tem uma queda 53 metros e atravessa 4 km no interior da Caverna do Diabo.
Centro da cidade de Eldorado, no Vale do Ribeira (Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)Centro da cidade de Eldorado, no Vale do Ribeira (Foto: Anna Gabriela Ribeiro/G1)
 

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