Edição do dia 28/04/2013
28/04/2013 20h59
- Atualizado em
28/04/2013 20h59
Os dois são tão apaixonados pelo que fazem que encontraram um jeito de seguirem as carreiras mesmo depois de sofrerem graves acidentes.
“Uma vez sentado no banquinho da bateria, largou as muletas. Rock´n Roll!”, explica o baterista Túlio Fuzato
“Quando você é envolvido pela aviação, você nunca mais consegue deixar ela de lado. É como se fosse beber água, você não consegue ficar sem”, conta o piloto de helicópteros Carlos Henrique Santoro.
Carlos tirou o primeiro brevê, a permissão para pilotar, em 2008. Dois anos depois, veio o susto.
Em 2010, a carreira do comandante Carlos Santoro foi interrompida depois de um grave acidente de carro. Ele voltava de uma festa com um amigo que estava ao volante.
Numa curva, o motorista perdeu o controle da direção e o veículo foi parar na calçada. O Carlos estava com o braço pra fora da janela e foi atingido por uma árvore.
“Foi quando arrancou a porta, parte do meu braço, arrancou a roda dianteira. Quando eu acordei da cirurgia tinha uma psicóloga na maca, ela perguntou pra mim ‘você sabe o que aconteceu?’ eu falei: eu sei”, lembra Carlos.
“Fala para o meu pai, para minha mãe, meus familiares que a primeira coisa que eu vou fazer quando sair daqui é voltar a voar", relembra o piloto.
O acidente aconteceu em Goiânia, onde Carlos morava na época. Depois de ter o braço direito amputado, ele foi encaminhado a este centro de reabilitação.
“A demanda que ele tinha era um pouco diferente do usual, ele não queria uma prótese para as atividades da vida diária, como todos os pacientes nos procuram. Ele queria uma prótese pra poder voltar a pilotar helicóptero. Ele procurou históricos, para poder ver se já tinha alguém que tivesse feito pra ele poder seguir o mesmo passo. E não encontrou ninguém. Então, a gente começou do zero mesmo e na tentativa e erro”, explica o médico Allyson Campos
“Eu levei eles até o helicóptero, expliquei a minha necessidade, nós tiramos medidas, falei ‘olha, eu preciso mexer aqui, movimentar assim’. Então, foi feita a primeira prótese, com um encaixe, a segunda prótese, a terceira até chegar em um quarto modelo”, explica o piloto.
Carlos mostra a parte do helicóptero que desenvolveu para conseguir encaixar. “Eu chego, só coloco a minha prótese e coloco a trava e estou pronto pra voar de novo”.
Um quinto modelo, mais leve, já está pronto em Goiânia, esperando pelo Carlos, que hoje trabalha em Marabá, no Pará.
Depois que colocou a prótese, o piloto passou por uma nova avaliação da ANAC - a Agência Nacional de Aviação Civil. E foi aprovado.
“Hoje, o comandante Carlos Santoro é o único habilitado pela Anac que usa uma prótese de membro superior adaptada para um helicóptero específico.” conta o Diretor de operações de aeronaves da ANAC, Carlos Pellegrino.
“Eu consigo realizar todas as manobras que eu realizava antes. tanto normais, quanto de emergência, eu realmente me readaptei a voar o helicóptero com a prótese. Eu não mudei nada no helicóptero. Eu me adaptei a entrar em qualquer helicóptero, colocar a minha prótese, decolar, pousar e fazer um voo seguro”, finaliza o piloto
O baterista Túlio fez diferente: adaptou o instrumento para poder voltar a tocar.
O pedal, ele tem uma adaptação mínima. “Eu levei no torneiro mecânico e fiz uma linguetona, que o bico do pé encaixa e ele não resvala.
Isso me dá total segurança para que eu possa socar o bumbo”, conta Túlio.
Túlio perdeu as duas pernas num acidente no metrô do Rio, há dez anos. Ele teve um mal súbito e caiu nos trilhos.
“O Túlio passou, mais de um ano em reabilitação. Tanto na fase antes da prótese, quanto na fase já em uso da prótese”, explica a médica Leila Castro.
“E você tem um instrumento, você é músico, você vai ter que voltar a tocar, não tem jeito”, lembra Túlio.
Túlio e Carlos conseguiram retomar as atividades. Um processo que o David está começando agora.
Mês passado, ele foi atropelado enquanto andava de bicicleta na Avenida Paulista e teve o braço direito amputado.
“Ainda sinto bastante dores nas costas, nessa parte do ombro”, conta David Santos Sousa
Com a reabilitação, está ficando bem mais aliviado. “Ele vai ser treinado para receber uma prótese, ele vai ser trabalhado para poder utilizar essa prótese funcionalmente”, explica o médico fisiatra Donaldo Jorge Filho
David espera as feridas cicatrizarem para poder começar a usar a prótese de alta tecnologia que ganhou. Esse é o primeiro teste com os eletrodos afixados nos músculos que restou do braço.
A prótese definitiva será toda revestida de silicone. “O antebraço e braço dele vai ser todo da mesma cor, imitando a pele dele”, explica o fisioterapeuta Anderson Nolé.
David já faz planos. “Voltar a trabalhar, para poder ajudar em casa, voltar a estudar.”
“Tenho certeza que ele vai fazer quase tudo até mais do que ele já fazia.”, afirma a mãe Antônia Ferreira dos Santos
“Eu não tenho dúvidas que ele vá conseguir fazer, não por causa da prótese, mas por causa da força de vontade do David. Esse é o principal para que uma prótese possa funcionar. O paciente tem que querer, destaca o fisioterapeuta.
E se o Túlio precisar de reforço na banda, o piloto de helicóptero Carlos se candidata.
Nenhum comentário:
Postar um comentário