Elizângela Santos
Estudantes
que chegam de outras cidades a Juazeiro ficam em áreas como o Triângulo
Crajubar e usam outro transporte para chegar aos cursos. (Foto:
Elizângela Santos)
A demanda por transportes tem aumentado, e milhares de estudantes têm de percorrer todos os dias até mais de 100 quilômetros para chegar à universidade. Alguns contabilizam gastos de até mais de R$ 2 mil por ano, mesmo estudando em universidades públicas e sem emprego. Bancados pelos pais, os estudantes lutam par se manter e fazem apelos às administrações municipais pelo transporte gratuito.
É o caso da estudante do sítio Taboquinha, da cidade de Milagres, Flávia Thays Morais, que todos os meses têm que desembolsar R$ 200 para chegar ao destino final do seu curso, na Universidade Regional do Cariri (Urca), em Crato. No quarto semestre de História, ela ainda prevê um bom tempo de investimento, para alcançar a sua formatura. "Não é fácil ter que fazer todo esse sacrifício, mas somos obrigados. Seria bom se os prefeitos das cidades entendessem essa situação e facilitassem para nós, com transportes acessíveis", diz a estudante.
Diferenciada
A realidade para os estudantes é diferenciada em algumas cidades, onde houve até projetos aprovados nas câmaras municipais para que os gestores banquem os ônibus para os universitários. Na Urca dezenas de ônibus e topiques estacionados nas proximidades do Parque de Exposições Pedro Felício Cavalcante, ordenados pelo Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), pela grande quantidade de veículos, principalmente à noite, provenientes de Farias Brito, Aurora, Santana do Cariri, Milagres, Brejo Santo, Missão Velha, Barbalha, entre outras localidades. Antes, a maior parte dessa demanda era absorvida pelo Crato, mas com a ampliação do polo universitário, houve um aumento significativo de cursos em Juazeiro do Norte, hoje com quase uma dezena de faculdades particulares, além de cursos da Universidade Vale do Acaraú (UVA), Urca e a recém-criada Universidade Federal do Cariri (UFCA), com quase 4 mil alunos. Segundo a estudante de Jornalismo da UFCA, Alana Maria Soares, do Centro Acadêmico do curso, há uma grande precariedade do transporte. "Infelizmente não houve um crescimento na mesma proporção", afirma. Os transtornos relacionados à obtenção de um transporte para chegar até o destino final são imensos. Mesmo com reuniões com os donos de empresas de ônibus locais, para se chegar ao destino final, com horários compatíveis às aulas, ainda há deficiência e os transportes são velhos e segundo ela, sucateados. Empresas locais fazem o trajeto do centro e bairros de Juazeiro até a Cidade Universitária, onde se localiza a sede da UFCA, em sua maior parte dos cursos, além do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Juazeiro e Instituto Federal do Ceará (IFCE)
Ano passado, segundo ela, algumas estudantes exigiram uma reunião com os donos das empresas e a diretoria de assistência estudantil da instituição. Conforme Alana, pouco se evoluiu nesse sentido, porque há estudantes que têm de sair às pressas para não perder o transporte, e muitas vezes sem condições de realizar pesquisas, fora do horário da aula. Para ela, a situação se agrava ainda mais à noite, com ônibus lotados.
Esses são casos principalmente relacionados ao transporte municipal, já que vários universitários que chegam ao Juazeiro do Norte de outras cidades, têm que ficar em áreas como o Triângulo Crajubar e precisam de outro transporte para chegar aos cursos. Muitos ônibus vêm de municípios mais distantes da região, até a cidade juazeirense. De lá estudantes como Flávia e Joolymar Severo, alunos de história da Urca, têm que se deslocar nos transportes lotados oferecidos aos estudantes de Juazeiro do Norte, com destino ao Crato. A chegada é às 18h30 e a saída impreterivelmente às 22 horas. O retorno é uma etapa da viagem, para ele, de 120 quilômetros até a cidade de Aurora. Só que o aluno deu mais sorte, já que na sua cidade, o ônibus cedido pela prefeitura é inteiramente gratuito. "Se fosse pagar, muita gente não poderia estudar em Crato ou Juazeiro, pelo alto custo do transporte", avalia.
Alunos criam associação para viabilizar acessos aos campus
Ônibus escolar e transportes alternativos não acompanharam proporcionalmente o aumento da demanda, fazendo com que muitos universitários sofram com os deslocamentos, inclusive pagando caro para ter acesso às unidades de ensino
Juazeiro do Norte. As condições deficitárias são de conhecimento das administrações, que também não têm a obrigação de ceder transporte aos seus alunos, conforme o presidente da União Estudantil da Juventude (UJS), Péricles Lacerda. Ele reconhece a grande precariedade de transporte para os estudantes, e diz que a luta agora é pela mudança no projeto de lei no desconto das passagens intermunicipais. Mas nem todos os municípios têm empresas regulares.
É que para o estudante, mesmo de fora, que reside em Juazeiro, não poderá dispor do desconto dentro de sua própria cidade de morada. Tem que ter o deslocamento e comprovar endereço de outra localidade. Além disso, não há o desconto aos domingos, ou fora da macrorregião 8, em 44 municípios, inserindo nesse contexto o Cariri.
Para o presidente da entidade, a lei de desconto nas passagens intermunicipais para estudantes está prejudicando muito a classe. O projeto aprovado é de autoria do deputado Chico Lopes e Péricles ressalta que é muito pouco para acontecer a mudança na lei e adequá-la à realidade dos municípios, para não prejudicar os alunos e cidades como Juazeiro, que se configura como o maior polo universitário do interior do Estado, atualmente. Ele ainda enfatiza que em todo o Cariri o transporte para os estudantes tem sido precário.
A maior parte é o próprio estudante que está bancando, salvo exceções, mas aos poucos muitos gestores municipais têm se sensibilizado com a situação. Em Brejo Santo, apesar do apoio a alguns estudantes, saem da cidade todos os dias para Juazeiro do Norte e o Crato, cerca de 10 ônibus e quatro topiques. Outros alunos da cidade frequentam faculdades no Município de Cajazeiras, na Paraíba. Mas o estudante Diego Nascimento da Silva, do curso de História da Urca, ainda considera o transporte desorganizado na cidade.
Em Santana do Cariri, os estudantes decidiram criar a Associação dos Universitários de Santana do Cariri (AUSC). Segundo o estudante Eduardo Freire, do curso de Psicologia, da Faculdade Leão Sampaio, em Juazeiro do Norte, o investimento em melhores condições de transporte para os acadêmicos é também uma forma de trabalhar melhores perspectivas futuras para as cidades do entorno do polo. No momento, são cerca de 100 associados que vêm lutando por mais transporte para os alunos. (E.S)
ENQUETE
Que saídas vê para a questão?
"É importante que o transporte escolar seja garantido pelas administrações locais, para dar possibilidade do estudante das cidades mais distantes de poder ter acesso às unidades de ensino superior"
Flávia Thays Morais
Estudante
"A prefeitura da minha cidade mantém o transporte de forma gratuita para os alunos há muitos anos. A cidade de Aurora fica acerca de 120 quilômetros e se não fosse assim, muitas pessoas deixariam de estudar"
Joolymar Severo
Estudante
Fonte: Diário do Nordeste
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